quarta-feira, 4 de junho de 2008

Série Cias. de Teatro do Rio


Série Cias. de Teatro do Rio


Amok Teatro




Cartas de Rodez*



Esteve em cartaz uma retrospectiva de espetáculos da Cia. AMOK TEATRO do Rio de Janeiro na sala Nelson Rodrigues da Caixa Cultural. Assisti a três espetáculos dessa companhia. Dragão, Savina e as Cartas de Rodez, este infelizmente teve que ser interrompido logo no começo da função. Não sou amigo dos seus integrantes, nem dos seus diretores, Ana Teixeira e Stephane Brood e isso me deixa mais a vontade. Depois descobri, visitando o site do grupo, que já os admirava e respeitava por trabalhos anteriores, vistos antes e que não lembrava, ou lembrava pouco. Recomendo o site para se ter uma idéia da estrutura, propostas e seriedade do Grupo.




Macbeth


O AMOK é um grupo, que na escolha do seu repertório, não se preocupa com os temas ditos atuais ou com a realidade imediata. Trata o teatro na sua qualidade maior que é o de ser eterno, elevando seus espetáculos, independente do tema ou época da ação a categoria de clássicos, tocando ao mesmo tempo a razão e a sensibilidade de quem os assiste. Nos trabalhos do grupo o que encanta de imediato é o rigor formal com o qual seus espetáculos são conduzidos, sua clareza no tratamento e condução das idéias, o cuidado, a quase perfeição com o trabalho corporal do elenco e a qualidade de interpretação de parte do elenco, em especial um ator, Stephane Brood, (também diretor) com uma presença cênica, domínio vocal e físico surpreendentes.



O Carrasco


O trabalho desse ator é tão expressivo e forte, que o grupo parece criar certa unidade, a partir dos seus resultados, dá a impressão que a sua potencialidade serve de parâmetro para a construção, desenvolvimento e conseqüente resultado do trabalho de todo o elenco. No plano corporal, o grupo alcança um equilíbrio e uma qualidade excepcionais, dando ao espetáculo a credibilidade que o tema, época e conteúdo das peças exigem, tarefa difícil, já que todos os espetáculos que vi, trazem em seus conteúdos, signos de outras culturas e épocas distintas. Infelizmente ainda, parte do elenco demonstra algumas deficiências na formação vocal, prejudicando um pouco o brilho e as nuances das intenções do texto e conseqüentemente, um maior aproveitamento.
O programa das peças explica que o trabalho do grupo coloca o ator e a linguagem física no centro do ato teatral, e é verdade. Diz também que esse trabalho está apoiado em dois eixos: Antonin Artaud e Etiennne Decroux, artistas que confesso, não ter muita intimidade e até mesmo, confesso novamente, não entender como colocar em pratica as teorias do primeiro. O que eu vi foi um rigor, criado a partir do que eu entendo do gestus e distanciamento brechtiano, do trabalho corporal de Grotowski e uma boa dose de Stanislavski. Mistura difícil, que poucos sabem mediar, dosar as partes e conduzir com sucesso. É interessante notar que a carga de emoção colocada no espetáculo, através de uma interpretação realista, um naturalismo com um tom acima, econômico e significante, que a principio, contrasta com a forma distanciada das transições de cena, da arrumação do espaço e da preparação do elenco à vista do público,



Antonin Artaud


Etienne Decroux




(lembrando que estamos no teatro) aumentam o nível da teatralidade. A condução das marcas (com pequenos exageros facilmente corrigíveis), a beleza, a economia e a precisão dos gestos sociais e pessoais, a emoção dos personagens a solta, mas direcionada e bem dosada, além de serem um grande diferencial da direção e do espetáculo, dão aos textos, que são histórias simples e as vezes perigosas na sua condução, (no caso de Savina, um dramalhão Cigano, pode-se dizer, no limite do risível) uma grandiosidade e dignidade teatral que pouco se vê. Isso tudo, não seria possível se a convenção estabelecida no palco não estivesse absolutamente controlada e bem conduzida pela direção e elenco.
A musica pontua o desenvolvimento emocional e informa, está apoiada numa pesquisa de extrema seriedade e riqueza e exerce um papel fundamental na condução do clima e estética do espetáculo. A propósito, a seriedade da pesquisa para construção dos espetáculos como um todo, pouco se vê no as vezes, frágil e fútil teatro do Rio e só por isso, já seria motivo de orgulho para classe teatral.
Figurinos, adereços de cena e luz cumprem seu papel de forma eficiente e adequada. Eles, além de belos, informam sobre os personagens, situam o espaço e o tempo de forma atemporal, além de criar o clima correto para o desenvolvimento da ação e da linha de emoção. A repetição de formulas nas marcas de transição e na condução dos três espetáculos que eu vi, são harmônicos entre si, mas um pouco repetitiva e talvez precise ser repensada.
Pode parecer inusitado e estranho que eu diga, mas é muito bom ver espetáculos onde se percebe que elenco, direção e técnicos sabem o que estão procurando, sabem o que estão fazendo e porque estão fazendo. Por incrível que pareça é um fato raro por aqui. Se erram ou se ainda, em algum segmento do espetáculo, não chegaram à perfeição, sabem que tudo é um processo e que o caminho é longo, sabem que se fizerem um espetáculo perfeito, não vão ter mais para onde ir e aí teriam que parar e ninguém quer que eles parem.
Parabéns ao Grupo, parabéns aos produtores Sergio Saboya e o Silvio Batistela e a equipe deles, que acreditam e apostam nesse tipo de proposta. Sei que eles produzem e apóiam outros grupos com as mesmas características, outra coisa muito rara de se ver por aqui. Finalmente, parabéns a quem torna possível esse grupo sobreviver e continuar seu trabalho, pela sua visão de futuro. Sabemos que no Brasil e no mundo todos os trabalhos conseqüentes, todos os trabalhos que mudaram ou acrescentaram algo de novo ao teatro nasceu a partir de grupos e pessoas que se dedicavam mais a sua arte e ao seu ideal de trabalho, do que ao sucesso fácil e imediato tão comum hoje em dia.


*Fotos do grupo retiradas do site - www.amokteatro.com.br

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo blog!!!