domingo, 1 de junho de 2008

Reflexões

E a Arte, como fica?








Recebo muitos e-mails, leio blogs e me preocupo. É inegável o valor desse instrumento que caiu em nossas mãos, a internet. As teorias conspiratórias, as formulas mágicas para saúde e para vida são muitas e sempre me dão muito trabalho no sentido de separar o joio do trigo. É evidente que não dá para acreditar em tudo que se lê (alguns e-mails e postagens seriam apenas exagerados se não fossem irresponsáveis). Mas tudo bem, cada um pensa e escreve o que quer e como quer, mas acredito que alguns assuntos mereciam serem tratados com mais cuidado. Esse é o ponto em que eu queria chegar
Às vezes eu sou um crítico, e a maioria das vezes ainda, um crítico decepcionado, mas sempre esperançoso por mudanças. Constato que estamos vivendo um momento em que é quase impossível, a tarefa de separar a verdade da mentira, o bem do mal, o bom do ruim e até a beleza da feiura.  É lamentável o fato de quase não contarmos com fontes e referências seguras e de que, se você não tiver um mínimo de informação e bom senso, estará condenado à danação eterna. É triste não poder confiar no jornal que você lê, na TV que você assiste, nos seus representantes políticos, no seu patrão, na internet que você consulta, na propaganda que te empurram, no rádio que você escuta, nas fotos que você vê e nos e-mails que você lê. Isso tudo gera em mim um grau de ansiedade e confusão consideráveis, e acredito que noutras pessoas também. Fico preocupado e sem esperança, quando sei que tem gente que acredita em tudo ou em quase tudo que lê e vê.

Certezas hoje em dia, só se têm algumas, muita das vezes, só as sobre você mesmo. Em relação à história oficial é preciso muito cuidado antes de se afirmar alguma coisa categoricamente. O passado é duvidoso, o presente pode não ser verdadeiro e do futuro eu tenho até medo de falar. Se esse estado de coisas reflete e orienta o comportamento das pessoas, é evidente que reflete e orienta a arte que produzimos e a que consumimos.

A pergunta é: Como os artistas de hoje entendem e refletem o mundo? Qual seria o papel da arte nesse momento. Diante deste estado de coisas, qual seria a sua função?  ...  Seria a reflexão?  O entretenimento? A catequização?... Qual? Falando de teatro e cinema especificamente, áreas  mais afins comigo e fazendo uma análise rápida do que é feito hoje, percebo que grande parte da produção, não toda, mas pelo menos uns noventa por cento, anda fazendo graça (às vezes sem graça) da realidade, com suas tiradas, posturas, tipos e expressões da moda ou ainda, só tentando criar moda mesmo. Não estou falando de comédia, essa tem um valor inquestionável quando é bem feita e é inteligente. Conseguimos falar de assuntos sérios e expor situações absurdas de forma divertida e critica através da comédia. Falo desse humor descartável, caricato, vazio, mal colocado, às vezes grosseiro, às vezes preconceituoso, sem conteúdo, onde o importante é não perder a piada. Outro segmento parte para um discurso existencial, às vezes parecendo profundo e que pretende expor essa ansiedade e confusão do ser humano atual a que me referi, mas na maioria das vezes, o discurso é raso, oportunista, da moda, um discurso que, ao contrario de provocar reflexões sérias,  não se fundamenta no essencial nem descortina a verdade, faz é criar posturas e comportamentos cada vez mais enganosos, equivocados ou mais distantes da realidade ainda e principalmente da simplicidade. Há também as releituras dos clássicos, que por aproximação, tentam entender ou pretendem fazer entender o que estamos vivendo hoje. Algumas poucas, muito bem sucedidas, a maioria, prenha de modernidades que tiram o foco do essencial e que também fazem graça em nome da atualização do texto. Na verdade, temos poucos (mas ainda temos alguns) dramaturgos e roteiristas preocupados ou capazes de fazer uma análise social, política ou existencial séria e correta desse nosso momento, ou então, é a realidade que se transforma tão rápido que torna difícil o ato de fixá-la numa obra, ainda mais com o compromisso que o bom teatro e o cinema tem de ser eterno.
O tempo artístico hoje, o ritmo, a estética, o conteúdo, o bom, parece ser o que a televisão nos impõe e sabemos que ela nivela a inteligência, o bom senso e o bom gosto por baixo. Estamos prestes a não ter e nem saber mais ler o bom Teatro e o bom Cinema, pois temos o péssimo Teleteatro e o igualmente desastrado Tele Cinema.  A televisão é um excelente veículo de comunicação e cultura, poderia ser de arte também, tem o seu formato próprio e uma linguagem específica, é um instrumento notável  e importante,  mas infelizmente tem interferido de forma ruim, até sinistra eu diria, em outras linguagens artísticas. Hoje, ela é só de e para consumo rápido e é preciso que se tenha  um adequado distanciamento para se divertir com ela.
Qual o segmento da arte que foge desse estado de coisa hoje, qual o que pode fugir ou tenta fugir disso? A literatura? O cinema? As artes plásticas? A turma da Mônica?  Olha pessoal, eu também não sei, mas é sempre bom pensar nisso.



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