terça-feira, 3 de junho de 2008

Os Mestres: André Kertész



André Kertész nasceu em Budapeste, no ano de 1894 e começou a fazer carreira na Alemanha, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Kertész compra sua primeira câmera aos dezoito anos, mas afirmava ter escolhido sua profissão aos seis anos de idade, diante de um álbum de família. Ainda na Hungria, fotografava de tudo. Diplomado na Academia de Comércio, trabalhou alguns anos na Bolsa de Valores de Budapeste. Serviu na Primeira Grande Guerra. Foi ferido, passando um ano enfermo. Depois da guerra, muda-se para Alemanha, atuando como fotógrafo nos principais jornais e revistas. Integra a nova visão de fotografia disseminada por Erich Salomon. Porém, com a ascensão de Hitler, vários intelectuais, artistas e jornalistas deixam a Alemanha, inclusive Kertész. Os refugiados espalham uma nova fotografia e principalmente um novo modo de ser fotógrafo. Kertész se instala em Paris. Escolhe para morar Montparnasse, bairro preferido pelos artistas, ficando amigo da vanguarda parisiense. Rapidamente desponta com sua sensibilidade. Na época surge a revista Vu, que revoluciona o gênero com a valorização da fotografia. Kertész faz parte do grupo de fotógrafos que trabalhava para a revista. Além de trabalhar como jornalista, realiza vários projetos pessoais.

Quando Cartier-Bresson começa a fotografar, tem André kertész como referência. Seu mestre. Além da forma sofisticada de sua imagem, Kertész dá início a um novo fotógrafo andarilho, que também é uma das marcas de Bresson. “Kertész é o único fotógrafo que me excita”, diz Bresson a um amigo, anos mais tarde. No entanto, seus trabalhos são bem distintos. Diferente de Bresson, Kertész capturava o mundo em suas sutilezas. Valorizava a forma e sendo mais aberto com a mensagem. Em vários momentos havia um ar surrealista ou uma realidade fantástica. Mas ele se descrevia como um fotógrafo realista. Uma mão no ombro, uma sombra, um garfo encostado num pires, um nu distorcido. Kertész é pura poesia. Nenhum tema era insignificante para seu olhar. Ele via o mundo de forma singular, em recortes fantásticos. No entanto, sem fugir da técnica fotográfica. Admiro Bresson por seu estilo e a precisa composição, mas é na poesia de Kertész que me realizo como artista. Ele me mostrou como a fotografia poderia ser arte mesmo enquanto fotografia. A fotografia de Kertész não queria ser pintura como a dos fotógrafos Pictoralistas, nem transbordar a realidade como o surrealismo de Man Ray. André Kertész fazia arte enquanto fotógrafo.

Em 1936, foi convidado para trabalhar em New York. O amigo Man Ray, um norte-americano, aconselhou a ele que não fosse. Kertész aceitou o contrato e partiu de Paris. Anos mais tarde, diria: “foi o maior erro da minha vida”. Não gostava dos Estados Unidos, preferia a Europa, mas nunca voltou.

A fotografia de kertész é poética e humanista. Certa vez, convidado para trabalhar numa revista em New York, os editores acabaram o dispensando porque sua fotografia era muito significativa. Era doce. Queriam um registro mais brutal do mundo. Existe elogio maior que esse?

“Fotografar, quer dizer sentir. Ver, não é suficiente. A câmera enxerga também, mas não sente” André Kertész

Conheci o trabalho de Cartier-Bresson primeiro, mas foi com Kertész que percebi a fotografia como um fazer artístico. Bresson me deu o prazer da caçada, a técnica do arqueiro, mas kertész me deu a poesia e o valor das sutilezas. Permitiu-me um olhar mais poético aos detalhes que formam nossa existência. Enquanto Bresson espreitava sua presa, kertész convidava com um sorriso. A fusão dos dois me tornou um poeta caçador.
Herbert Macário































































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