sábado, 30 de agosto de 2008

Teatro

RÁPIDO DICIONÁRIO DE TEATRO

BERTOLT BRECHT



A obra de Bertolt Brecht é considerada uma das mais originais e universais do teatro contemporâneo. Dramaturgo, teórico, encenador, poeta, foi um completo homem de teatro. A tônica do seu trabalho foi a recusa radical das ilusões criadas pelo teatro clássico. Seu teatro, como ele mesmo o define seria o Teatro da era científica, também chamado de Épico ou Dialético. Brecht recusa as mentiras da arte e os artifícios habituais da época, em beneficio da crítica social. Retoma a teatralidade perdida com o naturalismo e é radical no seu combate. Afinal, o teatro historicamente nunca havia sido naturalista, os Gregos com seus altos coturnos, máscaras, representando ao ar livre e à luz do sol não o foram; a Comédia Del Arte em cima de suas carroças nas feiras tampouco e Shakespeare com seu palco Elisabetano cheio de elementos simbólicos também não o era.




família de Brecht

Nasceu em AugsburgAlemanha em 1898, numa família de industriais. Teve uma educação burguesa. Tentou se formar em medicina, chegando a trabalhar como enfermeiro em um hospital de Munique na 1ª guerra mundial, a mesma guerra o fez desistir de seguir carreira. Ainda em Munique estréia suas primeiras peças. Depois da guerra muda-se para
Berlim, onde o influente crítico, Herbert Ihering, chamou-lhe a atenção para interesse do público pelo teatro moderno, conheceu Erich Engel com quem veio a trabalhar até ao fim da sua vida. Somente em Berlim obteve seus primeiros sucessos. Com Hitler, eleito em 1933, Brecht não estava mais totalmente seguro na Alemanha Nazista, exilando-se na Áustria, Suíça, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Inglaterra, Rússia e finalmente nos Estados Unidos.






A Russia retoma Berlim

Depois da guerra, após algumas hesitações, Brecht retorna a Alemanha para o Setor Oriental, onde o Partido insiste em usá-lo como propaganda. Embora comunista declarado, resistia e insistia em fazer um teatro mais humanista. Seu exílio havia sido o seu período criativo mais importante, onde escreveria suas grandes peças. Também durante a década de 30, Brecht havia refinado sua estética marxista, estava convencido de que os intelectuais tinham de desempenhar um papel decisivo na transformação da Alemanha durante aquele momento de crise e que se uma nova cultura socialista se desenvolvesse, nela deveria haver certa liberdade, especialmente para artistas e intelectuais. Eles não podiam simplesmente ser os porta-vozes da propaganda política do partido, "a exigência das obras de arte para nós é ainda mais alta: conteúdo e forma", escrevia. Brecht que nunca fugiu do conflito ou da crítica, ele acreditava que uma crítica eficaz era parte integrante da construção da nova cultura, se ele não pode ser visto totalmente como um vilão durante esse período, também não pode ser chamado de herói, ele tinha escolhas e fez acordos.



o Berlinen Ensemble

O Partido lhe concede um teatro e uma companhia para trabalhar, o Berlinen Ensemble. Lá ele desenvolve seus trabalhos teóricos e práticos sobre a arte da encenação e da interpretação, além de montar seus textos. Dirige o teatro junto com sua mulher, uma das mais famosas atrizes da Alemanha da época, Helene Weigel. Até hoje o Berliner Ensemble com a sua companhia, é uns dos mais respeitados, cultuados e estudados teatros do mundo. As primeiras influências de Brecht foram
Stanislavski, Meyerhold e Erwin Piscator. De Meyerhold aprofunda seu "método biomecânico" cuja principal intenção era fazer com que o ator exprimisse as nuanças psicológicas de seu personagem através de uma "máscara pantomímica", desenvolvendo a técnica de comentar o texto através do gesto. Técnica de inspiração asiática e que se tornaria evidente no teatro de Brecht. A contribuição de Piscator é a noção de um teatro propagandístico e educativo. É ele quem abre caminho para o verdadeiro teatro Épico teorizado e executado pelo encenador. Stanislavski era obrigatório, embora a principio pareça contraditório foi a apartir dessa base que Brecht vai desenvolver toda sua teoria.Também foram influências significativas os seus estudos sobre a sociologia e o marxismo.






Brecht e sua mulher Helene Weigel

Além de dramaturgo e encenador, Brecht foi responsável por aprofundar o método de interpretação do teatro Épico. Em seus escritos sobre teatro, Brecht relata a forma de interpretação de um ator chinês, Mei Lan-Fang, e repetia em palestras que esse ator ao representar papeis femininos, não era um mero imitador de mulheres. Descrevendo uma demonstração das técnicas deste ator , dizia que ele, de terno, executava certos movimentos femininos, ressaltando sempre a presença de duas personagens, um que apresentava e outro que era apresentado. Sublinhava que o ator chinês não pretendia andar e chorar como uma mulher, mas como uma determinada mulher
e que com aquela interpretação gestual, o público seria levado a exercer uma operação crítica do comportamento humano. Afirma ainda que cada palavra deve encontrar um significado visual através do gesto, assim o espectador poderia compreender as alternativas da cena.




Esta preocupação o levará a definir talvez os mais importantes conceitos do seu teatro, o conceito do distanciamento e o do gestus na interpretação e encenação dos seus espetáculos. Para entender o distanciamento e o gestus Brechtiano devemos entender a sua época.
O teatro Naturalista tinha sido aceito como a única convenção de palco possível na época em que ele nasceu. De uma forma radical e incisiva, talvez em função do momento e de como se praticava essa forma de arte. Brecht achava que o teatro era necessariamente político e que as classes dominantes em determinado momento haviam se apropriado do teatro e o utilizavam como instrumento de dominação. Achava que o teatro poderia ser também uma arma de libertação, sendo necessário apenas criar formas e conteúdos correspondentes.
A aristocracia anteriormente havia estabelecido divisões, alguns iriam para o palco e outros para platéia, de onde assistiam passivos e receptivos em vez de participar do ritual. Dessa forma a aristocracia refletia sua ideologia dominante. O próximo passo da burguesia tinha sido transformar os protagonistas, que haviam deixado de ser objetos de valores somente morais e começaram a defender outros valores, sempre das classes dominantes.
Brecht responde a estas idéias, convertendo o personagem de sujeito absoluto em objeto das forças sociais, não mais só de valores dominantes. Assim afirmava que o ser social determina o pensamento e não vice-versa.



Brecht e sua companhia

Para ele o teatro Naturalista da época era um teatro que criava uma poderosíssima ilusão da realidade. Tentava repetir a realidade em todos os seus elementos, na luz, nos cenários, nos figurinos, nos sons, além da criação da quarta parede na interpretação, ignorando por completo a presença do público. Dizia que esse público era submetido a uma espécie de catarse que os expurgava de suas “más emoções”, o que fazia com que eles deixassem o teatro aliviados e refrescados.
Conseguia isso, segundo Brecht, pôr sua capacidade de materializar diante do público uma ilusão de acontecimentos reais, colocando o publico dentro da ação e se identificando com o herói ao ponto de esquecer-se de si mesmo e não pensar. O publico sairia aliviado, mas desinteressado, dessinstruido e não aprimorado, este seria um teatro apenas culinário.
Brecht achava que a identificação com os personagens e as fortes emoções pelas quais a platéia passava, tornavam impossível o raciocínio (idéia bastante combatida, hoje e sempre), porque dessa forma o publico só veria o ponto de vista do herói. Isso já havia acontecido com público da Tragédia Grega e não deveria acontecer com as pessoas esclarecidas. Sem a capacidade da duvida não haveria como pensar sobre as implicações sociais e morais da peça, o público perderia o espírito crítico.
O novo teatro, o Teatro Épico (no final da sua carreira preferiu chamá-lo de Dialético) não só liberaria a faculdade critica da platéia como dispensaria ao encenador e dramaturgo, as convenções que a simulação do real lhe impunha. Dispensaria o ritual da exposição naturalista que se fazia através dos seus elementos (cenário, figurino, luz, sons, etc.), e o mais importante, eliminaria o elemento surpresa nas suas montagens (elemento tão prezado no teatro clássico), para isso, colocaria cartazes ou anunciaria com uma musica o que iria acontecer na cena seguinte, pensava que se o publico já soubesse o que iria acontecer, restaria apenas saber de que forma aconteceria e isso seria mais importante.
Com essa liberdade o teatro épico seria o único a representar a complexidade da condição humana numa era em que a vida do indivíduo não poderia ser compreendida isoladamente, ou seja, separada das tendências sociais, políticas, econômicas e históricas.


encenação do Circulo de Giz Caucasiano

O palco de Brecht se aproximava da sala de conferência na qual o publico acorre na expectativa de ser informado. A destruição da ilusão e a não identificação permitia ao publico olhar com objetivo critico as coisas mais familiares, o natural deveria ser tornado surpreendente. Todos os elementos teatrais como cenário figurino, musica, luz, etc., revelariam sua independência. Sua função seria além de localizar e completar a cena, comentar e criticar e mesmo que às vezes causasse estranheza, deveriam ter significação. Os atores trocavam de cenário ou se preparavam as vistas do público, a musica era necessariamente pouco melodiosa e bela, não pretendia emocionar nem envolver e sim informar, o publico deveria ouvir a letra que sempre comentava a ação. Era necessário lembrar sempre que estavam assistindo a um espetáculo preparado para aquela noite. Todos esses elementos juntos formam o que se entende por o efeito distanciamento criado por Brecht. O distanciamento é a condição criada que capacita o publico não se envolver emocionalmente com o representado, capacitando-o a olhar criticamente a cena. Distanciado.



Tambores da Noite

Na medida em que desmonta o processo Naturalista, mostra que há uma produção, que aquilo foi pensado e ensaiado. Na medida em que utiliza os elementos teatrais da forma que seja mais adequada para passar a idéia, cria um elemento estranho, esse elemento é o distanciamento. Também chamado de Efeito de estranhamento. A destruição da ilusão e a não identificação permitiria ao público olhar com objetivo critico para as coisas consideradas naturais.
O Gestus, elemento tão caro ao seu teatro, foi outra de suas contribuições ao espetáculo e a interpretação, ele determina o método pelo qual o diretor e ator enfrentam uma peça. O Gestus seria uma expressão clara e estilizada do comportamento social dos seres humanos em relação aos outros. Este termo que não significa apenas gesto, mais que cobre toda gama de sinais exteriores das relações sociais, inclusive a maneira de portar-se (Trabalho corporal na interpretação, entonação na voz, expressão facial) também leva em conta todo o palco, ou seja, todos os elementos que compõem o espetáculo.

Um Homem é um Homem

Cada cena de uma peça deveria ter seu gestus básico. Analisando a ação se determina a linha da história que é decomposta em elementos cada vez menores, até que cada cena pareça a expressão de uma ação simples, transformada em uma frase que contém uma idéia. Exemplo: Hitler travava o povo alemão como marionetes.
Essa idéia ou frase que contem o gestus básico é em que o encenador deverá se concentrar para deixar clara a cena para platéia. A distribuição dos atores em cena, os signos que carregam todos os elementos do palco, o modo de falar e se movimentar dos personagens devem ser levados a transmitir todas as implicações desse gestus básico. Não tem importância o aspecto que tal cena possa ter tido na vida real, o diretor está interessado apenas em evidenciar seu conteúdo e significação social.






domingo, 24 de agosto de 2008

Teatro


A idéia aqui é criar um painel dos grandes nomes do Teatro Universal. Rápido porque só contem informações ligeiras e sem aprofundamentos, apenas com a intenção de apresentar para um público leigo, as figuras que inventaram, influenciaram ou mudaram a face do teatro através dos tempos. Dicionário?... Não sei bem porque, pois nem em ordem alfabética vão estar. Talvez porque eu goste mais da palavra dicionário do que a painel. Vou seguindo a memória, a intuição e o material que estiver mais disponível.

Começo por Constantin Stanislavisk.


STANISLAVISK



Encenador, ator e principalmente teórico de teatro. Constantin Serguéiévitch Alexéev, nome artístico Constantin Stanislavisk, nasceu em Moscou- Rússia em 1863, sua avó materna era uma atriz parisiense. Bem nascido, filho de industriais, uma família de posses. Desde cedo manifesta um acentuado gosto pelo teatro, a ponto do seu pai e incentivador mandar construir em sua casa um belo palco à italiana para ele e seus irmãos. Entra para Escola Dramática de Moscou a partir de 1887 onde encena e representa diversos espetáculos amadores com tal esmero que começa a chamar atenção. Encara o teatro quase como uma religião e a partir do seu encontro com Némirovitch-Dantchenko (1858-1943), critico e autor dramático, fundam em 1898 o Teatro de Arte de Moscou que se tornará uma companhia consagrada mundialmente. Stanislavisk a dirigiu até a morte em 1938. Essa Companhia foi modelo de rigor teatral em suas encenações. A sua preocupação extrema com a exatidão histórica e psicológica nos espetáculos, acabou lhe valendo hoje, o título de precursor do Naturalismo, mas seu espírito inquieto e aberto na verdade, ultrapassa esse limite.


Teatro de Arte de Moscou hoje

Teatro de Arte Moscou na época de Stanislavisk

A ambição mimética, o sonho da coincidência fotográfica com a realidade e o fim da representação figurativa e simbólica definem o Naturalismo. Se dominamos o mundo podemos repeti-lo - Com essa máxima o teatro naturalista se introduzia e prometia novidades, como por exemplo, a recusa ao painel pintado, o cenário seria agora em três dimensões, os objetos seriam reais, o publico frontal e estático e a luz apenas no palco. A pretensão seria a de que o espectador esquecesse completamente que estava em um teatro assistindo a um espetáculo, induzido por uma interpretação que buscava provocar a emoção, a identificação e a catarse. O Naturalismo exerceu uma influencia tão forte para o teatro na virada do século XIX para o XX que até pouco tempo atrás, costumava-se achar que o bom teatro era aquele que conseguia repetir a realidade no palco e o bom ator o que conseguia viver o personagem da forma mais realista e natural possível.
Nas suas montagens, Stanislavisk se esforçava para criar essa sensação de realidade e para isso criou para interpretação o que se convencionou chamar de quarta parede imaginária, que separava a platéia do palco. A impressão do real seria criada ainda através da reprodução perfeita, com uma precisa pesquisa histórica nos cenários e figurinos. Os objetos também eram reais e pesquisados de acordo com a época em que a ação da peça se passava. O Som produzido no palco e a luz para teatro (em desenvolvimento recente na época), também contribuíam com climas e efeitos que buscavam de forma obsessiva a perfeição, nada podia sair errado, pois destruiria a sensação de realidade.


Tckecov e atores do Teatro de Arte de Moscou

Além dessa contribuição, que muitos hoje, com razão, acham um retrocesso na linguagem teatral, exatamente por não ser teatral (entendendo-se o teatral como uma leitura particular da realidade, que pode ser impressionista ou simbólica, por exemplo), e que hoje é mais adequada à linguagem televisiva e cinematográfica, Stanislavisk criou um poderoso sistema, um método de interpretação revolucionário, e o seu ponto de partida seria também a exatidão, dessa vez a exatidão psicológica. Esse sistema serve até hoje de base para todos os atores, iniciantes ou não e ainda é reproduzido praticamente em todas as escolas de teatro do mundo, inclusive e principalmente a Actors Studio.
A interpretação dos seus atores era marcada pelo rigor, verdade e autenticidade, ele elabora suas teorias fundadas numa análise psicológica do comportamento humano, uma verdadeira investigação científica, utilizando a psicologia experimental da época e até os métodos parapsicológicos da ioga. Para Stanislavisk a arte dramática seria a capacidade de representar a vida do espírito humano em público e de forma estética. Talento, inspiração e intuição são experiências não conscientizadas, a ciência não explicava as reações químicas para se chegar à inspiração e como ela era provocada, apenas o artista genial a conseguia intuitivamente. Pensando nisso ele opta pela técnica, opta por chegar racionalmente a um processo que regesse uma boa interpretação, para isso teria que estudar e compreender como agem os personagens (que é um ser humano com toda a sua complexidade interior), concluindo que deveria entender todos os aspectos da complicada ação humana na vida real. Resumindo, teria que estudar os processos naturais que regem a ação na vida real e transferi-las para o teatro. Para ele a técnica libertaria o espírito.

Stanislavisk como ator

Procurava fazer preceder no ator a consciência sobre o inconsciente (sede de inspiração). Para isso introduz exercícios físicos, de relaxamento e respiração, cultiva a prática da observação, da imaginação e da concentração absoluta. O Ator Stanislavkiano reconstrói psicologicamente seu personagem com minúcia extrema, usando os dados fornecidos pela peça e imaginando da forma mais concreta possível o que lhe falta, o passado e os objetivos futuros do personagem, suas reações diante de diversas situações, etc.. Criou o que se chama em teatro de Fé Cênica, que é a crença absoluta na verdade da cena. Extirpou da interpretação, os truques, vícios e a impostação tão comum da época, lhe conferindo autenticidade.
O Teatro de Arte de Moscou e Stanislavisk mantiveram uma parceria perfeita com Tckecov e Gorki. A montagem dos seus principais textos acabaram por resultar em espetáculos memoráveis. A relação entre Tckevoc e Stanislavisk era afável, mas complicada dizem, gerando passagens risíveis principalmente em função dos preciosismos, detalhes e exigências de pequenos acertos e mudanças que o encenador propunha, por causa da sua decantada exatidão.
Para quem quer se aprofundar em seus estudos, suas obras traduzidas para o português são: Minha vida na Arte; A preparação do Ator; A Criação de um Papel; A Construção da Personagem e o Manual do Ator. Estes livros contam todas as suas experiências e experimentos e descrevem seu método. Se quiserem saber em quem Stanislavisk se inspirou e de quem recebeu as primeiras influencias, podem pesquisar: O frances André Antoine, fundador do Théatre-Libre, ator, crítico e encenador. O ator italiano Tomaso Salvini e sua forma de atuação e a Companhia Teatral dos Meininger. Existem também incontáveis livros que comentam sua obra.
No final da vida, ainda curioso sobre a arte que abraçou, Stanislavisk chegou a convidar Gordon Craig (1872-1931 - teatrólogo britânico, que tinha uma notável concepção teatral, caracterizada pelo Antinaturalismo, que com uma nova concepção de arte promoveu uma renovação no teatro europeu do século XX), cujas teorias não eram do seu agrado para montar Hamlet no seu Teatro.

Final da carreira e vida

ENTRE DOIS SÉCULOS

Anita Malfatti (1889-1964)
Vaso de Flores
década de 30
Pastel s/ papel - 31x41

A Japonesa, 1924
Óleo s/ tela - 100x80


O Jardim, 1912
Óleo s/ tela - 23,5x29
A Floresta, 1912
Óleo s/ tela - 20x29

Nu Masculino
Carvão s/ papel - 62x47,5

Academia XI, 1917
Carvão s/ papel - 52x44


O Farol, 1915
Óleo s/ tela - 46,5 x 61

Desenhista e Pintora paulista. Uma das figuras determinantes para a realização da Semana de Arte Moderna. Em seu trabalho encontramos fortes características do Fauve, do Expressionismo e do Cubismo. Gosto de suas formas e cores.



quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Entre Dois Séculos

Arte Brasileira Do Século XX
Na Coleção Gilberto Chateaubriand
Roberto Pontual


Quando estudamos história da arte somos apresentados a arte mundial. Quem já não ouviu os nomes Picasso, Monet, Dali, Da Vinci... e muitos outros. Por outro lado, deve-se admitir, que há uma certa perda de conhecimento quando se fala da arte no Brasil.

O título acima é do livro de Roberto Pontual, publicado em 1987, pela Editora JB. O autor, através da Coleção Gilberto Chateaubriand nos apresenta grandes artistas brasileiros. O livro é fantástico, repleto de imagens.

Nesta série vou pinçar alguns destes artistas e apresenta-los.
Meu critério de escolha é semelhante ao de Chateaubriand. Se faz mais por gosto pessoal do que por qualquer outro valor.

Para começar o prefácio de Gilberto Chateaubriand



Carlos Scliar – Retrato de Gilberto Chateaubriand
Nanquim s/ papel (30 x 21)
1979





Da Criação à coleção

Uma coleção, da mesma forma que uma obra de arte, só pode ser feita à mão. Diferentemente do artista, porém, o colecionador jamais conclui aquilo que começa: sempre há algo a conquistar, a modificar, a aprimorar. Talvez o drama do chef-d'oeuvre inconnu de Balzac não tivesse o mesmo peso se, no lugar do artista, tivesse um colecionador como protagonista. Se ambos têm em comum o trabalho solitário e paciente, que necessita tanto da razão quanto de sensibilidade, de conhecimento tanto quanto de instinto, eles divergem a partir do momento em que se coloca o problema da conclusão do esforço empreendido. Uma obra de arte que não chega ao fim nunca chega a ser mais do que potência, virtualidade; uma coleção que chega ao fim perde irremediavelmente seu potencial de realização. Paradoxal, sem dúvida, mas verdadeiro.

A coleção, objeto deste livro, construída ao longo de mais de 30 anos de paixão pela arte, não é conclusiva. Não se trata de apresentar um conjunto definitivo do que foi recolhido, muitas vezes ao sabor do acaso e do inesperado, como se o trabalho estivesse terminado. Ao contrário, mostrá-la ao público é assumir, ainda com mais ênfase, o dever da continuação. A coleção, tal como está exposta, é apenas uma demonstração do que ainda há por fazer.

Pois, se a obra de arte pode - e deve - ser terminada, o artista não pode estacionar. E nem a arte. É de sua natureza confrontar o espectador com novas realidades a cada momento, provocar nos outros a excitação da descoberta ­experimentada no ato de fazer a arte. E é da natureza do colecionador compartilhar desta excitação e saber situá-la, para que seja melhor compreendida, em um conjunto coerente, significante. É este o sentido da coleção e do trabalho do colecionador: explicitar o significado de um conjunto que, de outro modo, poderia permanecer disperso e, com isto, se perder.

A coleção mostrada neste livro não pode, assim, ser vista como um ponto final. Compreendendo obras da arte moderna e contemporânea brasileira de 1912 a 1986, ela procura extrair um sentido a esta produção, rica e diversificada como poucas no mundo, e que teve lugar em meio a dificuldades e crises por que o país passou nestes últimos 70 anos. Não é uma coleção exaustiva, sem dúvida. E nem poderia ser. Em primeiro lugar, porque o colecionador, sendo humano, não pode gostar de tudo ao mesmo tempo. Em segundo lugar, porque tentar ser exaustivo é querer abarcar ao mesmo tempo todos os significados possíveis, o que desembocaria em nenhum significado. Em último lugar, mas nem por isso o menos importante, porque, vivendo em uma sociedade de mercado, o acesso à obra de arte só se dá através de um meio quase sempre caprichoso e incerto, onde as oportunidades, quando aparecem, não estão ao nosso alcance da forma como gostaríamos. Seria necessário ser capaz de estar em todos os lugares ao mesmo tempo para poder aproveitá-las por completo.

Isto, por si só, justifica o que a coleção contém e aquilo que ela não contém. As ausências não representam, assim, apenas um julgamento de valor. Antes, refletem um gosto pessoal, a busca de um significado específico e as oportunidades que permitiram a sua constituição. E é através destes parâmetros que ela deve ser vista. Os ausentes não estão ausentes por demérito ou por injustiça, e nem os presentes por puro capricho. E, afinal, uma coleção não se avalia pelos vazios, mas pelos cheios: o seu conteúdo é o único critério válido de julgamento, é o que define seu significado.

De cerca de três mil obras foram decantadas, quase, 800 dando um apanhado singular da arte brasileira, reunido com amor e paciência através dos anos, por vezes sob condições adversas e quase impossíveis, outras vezes assumindo o risco do desconhecido e do incerto. O significado que ele explicita está aí, porém, à vista de todos, realizando parte substancial do destino para o qual ela se fez: tornar visível uma realidade, para utilizar uma frase de Paul Klee, para quem o papel da arte não é refletir o visível, mas tornar visível.

O resultado aqui apresentado não teria sido possível sem a audácia editorial do Jornal do Brasil que, na pessoa de Manoel Francisco do Nascimento Brito, assumiu o compromisso da realização desta obra. Ela surge em um momento ainda incipiente de nosso mercado de livros sobre arte, e quando são poucos os que tomam a si a tarefa de promover a cultura artística brasileira. Em meio aos vazios que se observam, a atitude do Jornal do Brasil tem ainda maior destaque e significação no quadro de escassez de material literário e iconográfico. Meus agradecimentos a todos que colaboraram com este livro.

GILBERTO ALLARD CHATEAUBRIAND



Glauco Rodrigues – Gilberto Chateaubriand
Tinta acrílica (190 x 190)
1984

domingo, 17 de agosto de 2008

See e Tok

série diálogos

A Historia do Teatro






SEE e TOK estão numa esquina conversando sobre um
amigo ator. Estão atrasados e apressados, mas o assunto
não pode ficar para depois.

See - Convenhamos, o que aconteceu com ele foi um drama... (Olha
para o lado) Caramba... Estou atrasado.

Tok - Pra mim foi uma farsa... (olhando o relógio) Eu Também.

See -Tudo bem, tudo bem. Mas... Vamos admitir, a vida do cara é uma
Tragédia.

Tok - Mas com muitas passagens risíveis, na verdade é uma verdadeira
Comédia.

See - (Gesto) Ih...Perdi o ônibus. Sim, sim...mas você concorda que enquanto
falava, estava muito calmo e também colocou o assunto com um
naturalismo Impressionante e bastante crível. (para si) E agora?

Tok - Eu sei, foi realista, mas não foi dialético e convenhamos, tinha
momentos de um absurdo incontestável e fez também uns silêncios,
umas pausas...(olha o relógio) Também tenho que ir...(voltando). O
cara fazia uma mímica incompreensível.

See
- Pode ser, pode ser. Mas não sei... (para si) Que que eu faço agora?
(voltando) Quer saber...Fiquei emocionado, ele falou de uma
forma muito harmônica, quase musical. E sempre com uma visão muito
madura... De adulto.

Tok - Ja pra mim, ele mim foi infantil. (olhando para o lado e pensando alto) Puta merda, passou uma van.

See - Não, não e não. O que ele fez é o que se chama de nonsense.

Tok - Chamo isso de tragicomédia.

See - (Olhando para o relógio) Puxa... Também não é assim, vamos
pelo menos admitir que isso é humano, que é a historia do ser
humano.

Tok - Não amigo. Isso é a história do Teatro.

See - (Olha o relógio mais uma vez, desanima) Porra... Perdi o teste.

Tok - (Olhando o relógio também, conformado) Eu também

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Paisagens Construídas


Carl Warner



Chico Expedito me enviou uma coleção de fotos do fotógrafo britânico Carl Warner, que criou uma coleção de paisagens montadas com comida. As imagens, rapidamente, me remeteram ao pintor milanês Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) e suas faces de vegetais, animais e objetos.



Arcimboldo



As fotos de Warner são muito interessantes. Não resisti e fui procurar seu portfólio na rede. O acabamento é fantástico. Vale a pena uma visita, no site você encontra muito mais fotos(http://www.carlwarner.com/). Não encontrei nenhum texto de apresentação, mas parece atuar no meio publicitário e utiliza a manipulação digital com grande destreza. As paisagens de comida são feitas com uso de camadas digitais. Suas fotos têm um toque de humor sutil, do qual gosto muito. Warner até faz uma homenagem a Arcimboldo.



Carl Warner



Carl Warner




Carl Warner



Carl Warner




Carl Warner



Carl Warner


A seguir algumas pinturas de Arcimboldo. Na verdade, são os únicos trabalhos que conheço dele, mas devia ser um ótimo pintor já que foi o pintor oficial da Casa do Imperador Ferdinando I (Sacro Império Romano-Germânico).
Creio que foi o primeiro a fazer esse tipo de composição. Em sua época, foi considerado de gosto duvidoso. Mas, no século XX, suas pinturas foram resgatadas pelo grupo Surrealista.



Arcimboldo




Arcimboldo



Arcimboldo



Arcimboldo



Acredito que Arcimboldo foi o precursor desse tipo de composição, que cria imagens com a junção de objetos diversos. Mais tarde outros artistas também criaram composições semelhantes, provavelmente, inspirados em seu trabalho. Selecionei, aqui, três artistas:



Vik Muniz
Nasceu em São Paulo, mas vive entre Rio de Janeiro, São Paulo e New York. Sua carreira como artista plástico é radicada em New York. Seu trabalho é algo entre o desenho e a escultura, que fotografa e finaliza como foto. É um dos artistas brasileiros contemporâneos mais valorizado no exterior. (Entrevista: http://www.fortesvilaca.com.br/artista/vik-muniz/)




Vik Muniz

Vik Muniz



Vik Muniz


Vik Muniz



Vik Muniz



Philippe Halsman (1906-1979)
Nascido na Letônia mudou-se para Paris em 1928, onde se fixa como fotógrafo de moda e retratos. É reconhecido como um artista surrealista ao trabalhar em parceria com seu amigo Salvador Dali, ao longo de 30 anos. Também é conhecido pela coleção “Imagens de Saltos”, que realizou quando foi morar nos EUA. No projeto, fotografava personalidades políticas e artistas saltando.



Philippe Halsman




Philippe Halsman
(esta composição não se encaixa na proposta de Arcimboldo, mas é muito conhecida)



Arnaldo Pappalardo
Paulista, graduou-se em arquitetura, mas atua como fotógrafo publicitário. O trabalho a seguir foi exposto em 1988. Na época, ele estava inserindo-se no mercado de arte, o que me chamou a atenção, pois eram poucos os fotógrafos que o faziam. Se me lembro bem, as fotos tinham um valor significativo. A coleção era formada por 28 fotos entre preto e branco e coloridas. As fotos em P&B tinham tamanho 50x60cm e eram feitas em câmera de grande formato, com negativos de 4X5 polegadas. As fotos coloridas da série, eu não conheço.
Alguns anos atrás, ele publicou um novo ensaio na revista de fotografia de arte Paparazzi. Um jogo arqueológico com objetos contemporâneos enterrados. Faz tempo que não vejo outros trabalhos seus.

Arnaldo Pappalardo
Anel de Saturno




Arnaldo Pappalardo
s/ Título