sábado, 28 de junho de 2008

PEDRA: A trajetória da imobilidade

Vagava...
Em tempos sem medida
Em espaços sem medida
Levada pelos ventos

Não sei como, algo mudou
Numa espiral
unindo a outros como eu
milhares de bilhões
quase infinitos
Unindo-me a estes, entro em transformação
Lama incandescente, pedra, areia,
pedra, lama,
pedra

O tempo nos esfriou
nos fez um
-Sou pedra-

O tempo age mais uma vez,
faz vida em minha pele
milhares

Não há o que fazer
apenas observo
Algo age
algo me move em torno da luz

Na minha pele a vida se multiplica
milhares se tornam bilhões
quase infinitos
No princípio gostava ...
tudo era novidade
às vezes forçava um movimento aqui e ali
era divertido ver como a vida reagia


Hoje estou cansada
o tempo passa lento ...
- Apenas observo -

Eles surgiram
tentando me compreender e dominar
me cobrem de fios
tiram o azul de meus fluidos
transformam minhas partes
Eles se aglomeram, mas não se tornam um
Não se integram
Fincão agulhas de vidro e aço em minha pele
São tantos, que às vezes me incomodam

Nunca irão me compreender
Não importa
Eles não percebem o quão são frágeis
Não são como eu, estão sempre se movendo
não sabem parar
Não conhecem a imobilidade
O "se deixar levar"
não conhecem o "algo" que nos move
Não há sentido em querer tanto

Não importa
em pouco tempo serei levada
no espaço voltar a vagar
Algo me guiará na liberdade dos ventos
só preciso esperar

Hoje sou imensidão
prefiro ser pó
sou uma poeira muito grande para me soltar da luz
mas falta pouco ...

A vida de minha pele me deu um nome
talvez seja a primeira pedra com nome
Eles são engraçados
às vezes gosto deles
talvez sinta saudades
não importa
a escolha não é minha
Falta pouco tempo
para voltar a vagar


Herbert Macário


quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Condomínio - Laerte

Click na Imagem
para visualizar

quarta-feira, 25 de junho de 2008


Segue as últimas músicas do Big Boy! Hello, Crazy People!!!! Volume I
Para continuar curtindo os embalos dos anos 70.


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sábado, 21 de junho de 2008


sugestões
de Cinema

filmes C


Não gosto mais de filmes cabeça, eles me dão dor de cabeça. Aliás, me divirto pensando na época em que a gente se consumia em noites de discussão, litros de vodka e rios de tinta, fora os mal entendidos e inimizades no caminho. Tudo para se saber quem tinha entendido esse ou aquele filme. Já na época, às vezes, eu me pegava pensando que não tinha gostado tanto assim e se aquilo tudo valia a pena, mas..., não ia ficar de fora.

Eu também não gosto do Glauber, ou gosto de pouca coisa dele, o cinema novo não me diz muita coisa, mas..., também não aprecio muito bossa nova e outras carioquices, olha que hoje em dia é uma heresia se dizer isso, mas..., não estou preocupado, nem me incomodo com os policiamentos bestas, que vemos com freqüência, mais próprios para Província de São Sebastião do que para uma cidade dita moderna. É só minha opinião e gosto, ninguém precisa se preocupar, porque não vai mudar nada e ninguém vai deixar de ganhar dinheiro com isso.

Minha relação com cinema no assistir é diferente da que eu tenho com o teatro, onde eu não sou humano e automaticamente uma chave liga, e sem querer mesmo, me distancia e me faz observar todos os detalhes criticamente, muito criticamente. No cinema eu relaxo e me emociono e até choro. Vejo tudo e dependendo do dia, o DVD de uma boa comédia romântica cai bem. Só não gosto dos chamados filmes de ação, dão muito trabalho de assistir e às vezes, tanta ação, estraga o que seria uma boa idéia. Parecem até com as montagens modernas de Shakespeare, onde o diretor sente necessidade de colocar ação, quando o principal é o texto. Talvez não seja culpa dele, a TV vem nivelando tudo por baixo, a preocupação em não deixar o expectador pensar, criar imagens, imaginar, escolher e a rapidez na edição das cenas, dentre outras coisas comerciais, se tornou essencial e o publico desaprendeu a ler teatro.

Voltando ao cinema, é claro que tenho alguns critérios e sei quando estou vendo um bom roteiro, uma história bem contada, uma edição bem feita, convenções bem estabelecidas, personagens críveis, essas coisas. Mas gosto de inteligência num filme, de ver seres humanos se movendo na tela, seus dramas diários, idiossincrasias, suas visões de mundo, seu humor, sua noção de eternidade e humanidade.

A idéia é sugerir filmes em DVD, já vi incontáveis e vou me lembrando aos poucos, então resolvi começar pelos que estou vendo agora. A série chama Filmes C, que tanto pode ser, para alguns, o que se entende por filmes C, mas pensei mesmo foi em filmes Chico. Quem sabe as outras portas se animem e façam o mesmo com suas formações e visões diferentes de cinema, seria muito bom.

Aqui vai o primeiro:








Gente linda e comum. Vida pulsando alegre e triste. Contradições.
Crueldade. Paixão e Compaixão. Esperanças. Vida. Bom filme.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

DEUTSCH BEATLES (Beatles em Alemão)

Meu amigo Leo, apreciador e amante de uma boa cerveja, certo dia, depois de tomar todas as que estavam na geladeira resolveu experimentar uma à temperatura ambiente.
Resultado, uma "bosta". Ato contínuo, pensou: - O melhor lugar no mundo para isso ou é na Inglaterra ou na Irlanda ou na Alemanha!!!!
Descendente de alemães, traçou o seu objetivo, mas para isso tinha que entrar num curso de alemão para viajante, afinal, de que adianta estar na Alemanha e não conseguir se comunicar pelo menos com o básico do tipo:

- Onde é o bar?
- Quais os tipos de cerveja vocês tem?
- Traz uma cerveja clara!
- Traz uma cerveja escura!
- Traz outra!
- Traz mais uma!
- Uma porção de salsichão e mais uma cerveja!
- Uma porção de Chucrute e outra cerveja!
- Onde é o banheiro?
- Traz a saideira!
- Traz o pé na bunda!
- Traz etc, etc, etc.

Mas como o professor do curso de alemão, não tem a mínima noção do que é fundamental para um viajante, que quer apenas tomar sua cervejinha à temperatura ambiente em paz, começa a inventar um monte de didáticas para tomar as aulas mais atrativas.
Neste ponto chegamos ao motivo deste post.

No tal curso, Leo conheceu duas músicas dos Beatles, cantadas pelos próprios, em alemão. Vale a curiosidade.

Pelo que pude pesquisar, os Beatles, no início da carreira, além de tocar no Cavern Club em Liverpool, viajavam pela Europa e tinham muitos fãs na Alemanha, onde tocavam no Star Club de Hamburgo. Por volta de 1963/64, já famosos, gravaram no Pathé Marconi Studios, em Paris, as versões em alemão de "She Loves You" e "I Want to Hold Your Hand".

Dê pausa na Boa Música e escute os Beatles em alemão



SIE LIEBT DICH (SHE LOVES YOU)
(Lennon/McCartney-versão:Klaus Voormann)

Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!

Du glaubst sie liebt nur mich?
Gestern hab' ich sie gesehen
Sie denkt ja nur an dich,
Und du solltest zu ihr gehen!

Oh, ja, sie liebt dich!
Schöner kann es gar nicht sein!
Ja, sie liebt dich,
Und da solltest du dich freu'n!

Du hast ihr weh getan,
Sie wusste nicht warum.
Du warst nicht schuld daran,
Und drehtest Dich nicht um.

Oh, ja, sie liebt Dich!
Schöner kann es gar nicht sein!
Ja, sie liebt dich,
Und dann solltest du dich freu'n!

Uhhh!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Denn mit dir allein
Kann sie nur glücklich sein!

Du musst jetzt zu ihr gehn!
Entschuldig' dich bei ihr.
Ja, das wird sie verstehen,
Und dann verzeiht sie dir.

Oh, ja, sie liebt Dich!
Schöner kann es gar nicht sein!
Ja, sie liebt dich,
Und dann solltest du dich freu'n!

Uhhh!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Sie liebt dich, yeah, yeah, yeah!
Denn mit dir allein Kann sie nur glücklich sein!
Denn mit dir allein Kann sie nur glücklich sein!
Denn mit dir allein Kann sie nur glücklich sein!
Yeah, yeah, yeah!
Yeah, yeah, yeah!




KOMM, GIB MIR DEINE HAND! (I Want To Hold Your Hand)
(Lennon/McCartney-versão:Klaus Voormann)

O komm doch!
komm zu mir!
Du nimmst mir den Verstand!
O, komm doch!
komm zu mir!
komm gib mir deine Hand!
komm gib mir deine Hand!
komm gib mir deine Hand!

O, du bist so schön!
schön wie ein Diamant!
Ich will mit dir gehen!
komm, gib mir deine Hand!
komm, gib mir deine Hand!
komm, gib mir deine Hand!

In deinen Armen
Bin ich glücklich
Und froh!
Das war noch nie
Bei einer Andern
Einmal so, einmal so, einmal so!!!

O, komm doch!
komm zu mir!
Du nimmst mir den Verstand!
O, komm doch!
komm zu mir!
komm gib mir deine Hand,
komm gib mir deine Hand,
komm gib mir deine Hand.

In deinen Armen
Bin ich glücklich
Und froh!
Das war noch nie
Bei einer Andern
Einmal so, einmal so, einmal so!!!

O, du bist so schön!
schön wie ein Diamant!
Ich will mit dir gehen!
komm, gib mir deine Hand!
komm, gib mir deine Hand!
komm, gib mir deine Hand!


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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Série Contos de Fora

Série Contos de Fora

Luciano Bonfim




É com um orgulho besta que abrimos essa Porta Nordestina pra um cabra da melhor extirpe e cepa. Luciano Bonfim mora em Sobral no Ceará, seu centro do mundo, de onde ele espalha poesia. A criatura se dedica a criação de literatura da melhor qualidade. Olho de cobra, paciência de bode, orelha de cangaceiro... É um homem atento, desconfiado e sensível ao jeito de sua gente. A tragédia e a graça passam por sua escrita. A partir do seu olhar danado e santo ao mesmo tempo, dá autenticidade, mas principalmente universalidade aos seus personagens, são todos nossos irmãos.
O mundo é pequeno e o centro está em todo lugar, pena não se ter acesso fácil a esses artistas, que nem tão preocupados com essa barafunda midiática dos famosos do lado de cá. Às vezes parece que só tem o lado de cá. Tanto se fala e tanto se fala que isso acaba virando verdade e não é. Eles praticam a sua arte que parece que não existe só porque não aparece, mas a arte deles alimenta a alma de qualquer ser vivente do mesmo jeitim que as outras.
Esses contos são da sua última publicação “móbiles”, menos regional que outras também de igual valor. Mostraremos tudo em breve, aos poucos, todas as suas caras.

Chico Expedito





Não existe apenas uma forma de amor & prazer

No curso do tratamento psicanalítico há amplas oportunidades para colher impressões sobre a maneira como os neuróticos se comportam em relação ao amor; ao mesmo tempo, podemos nos lembrar de ter observado ou ouvido falar de comportamento semelhante em pessoas de saúde normal ou mesmo naquelas de qualidades excepcionais..[Contribuições à psicologia do Amor]
Sigmund Freud



Maria Bonita, antes de conhecer Virgulino Ferreira, o Lampião, a quem amou até a morte, foi casada com o sapateiro Pedro.
Cléopatra, rainha do Egito e do coração de Marco Antônio, amou o poder sobre todas as coisas e teve, segundo os relatos, momentos de prazer intenso com os seus magnânimos amantes. Diziam-na belíssima.
Oscar Wilde, que por algum tempo viveu devotadamente à sua esposa, com quem teve dois filhos, crianças para quem escreveu as suas histórias de fadas e encantamentos, amou de profundis a um impetuoso jovem inglês.
Calígula, de quem dizem barbaridades sobre a sua vida e os seus amores, indistintamente amou a homens e mulheres, preferindo, segundo consta, aos rapazes fortes e fogosos.
Niestzche alimentou platônicos amores e nunca teve relacionamentos duradouros; nem parcos amores viveu; na juventude, com uma que nem mesmo soube do nome, teve raras relações sexuais, o suficiente para contrair sífilis e terminar como sabemos.
Schopenhauer nunca morreu de amores pela própria mãe, preferindo dedicar-se a um pequeno cão, a música e a filosofia.
Hitler, algumas vezes acusado de sodomia, empestava de prazer as suas roupas íntimas quando discursava para o seu másculo exército.
Narciso amou a si mesmo e entregou-se ao desespero de não ser correspondido.
Tarzan amava Jane mas nunca se desligou da macaca Chita, a quem conheceu bem antes.
Os cães às vezes se amam na praça e sempre depois do gozo ficam, por algum tempo, engatados um ao outro, sendo motivo de risos para muitos e escândalos para tantos.
Alguns amam e sentem prazer com animais não humanos.
Outros sentem prazer com aqueles que não amam.
Tantos exatamente não amam àqueles com quem dividem a mesma cama. Outros vivem com aqueles que realmente amam e têm prazer. Alguns fingem o prazer que não sentem, e somente assim, têm o prazer que deveras fingem.
Muitos se masturbam todos os dias. Outros não se masturbam nunca nem de vez em quando têm relações sexuais e, no meio da noite, muitas vezes, acordam salvos pela polução.
Existiram Satúrnicas e Bacanais. Troca de casais existe, menáge a trois, também
O campo do amor é vasto, vocês sabem! Infinitas são as zonas de prazer!
Alguns, mesmo assim, nem querem saber de amor e sexo. Outros, todavia, não vêem a hora de tudo isso começar.








Por causa do gato lilás


Tarsila, uma gata siamesa, que conviveu conosco por alguns dias, apaixonou-se pelo ‘gato lilás’ de Aldemir Martins – uma reprodução da tela que possuímos em casa.
Investiu tudo nesta paixão, estudou sobre o artista e sua obra, incomodou a todos com o seu canto lastimoso e noturno, gastou as unhas arranhando os telhados alheios.
Não encontrando retorno algum desta paixão, chegou a cometer o suicídio 6 vezes, até decidir-se a pesquisar intensamente sobre arte contemporânea.
Certa noite, após buscar um diálogo intenso com a eternidade, ainda meio grogue e desolada, saiu para a rua e não mais a vimos.
Soubemos, algum tempo depois, que ela fora atropelada e tornou-se uma efêmera intervenção urbana.

LUCIANO BONFIM [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam - Contos[2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético[1992] e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia ; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado[2002] e As Mulheres Cegas[2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências[2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA[desde 1996]; aluno do mestrado em Educação Brasileira[FACED-UFC/2006].

e-mail: luciano.bonfim@yahoo.com.br

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Comentário sobre "La Disparition", de André Kertész



A primeira idéia que me veio à mente foi sobre o mistério: "o que aconteceu com a pessoa?". O "eu" fotógrafo precisava saber sobre a ilusão. Pensei que fosse algum efeito de laboratório, ou alguma montagem, "talvez uma técnica nova", mas não tinha nada de novo, pelo contrário, a foto era de 1955. Mas esta fase durou algum tempo, talvez por não conseguir uma resposta satisfatória para minhas dúvidas.

Passada a fase de curiosidade técnica, hoje começo realmente a ver a foto. Digo até delirar com a imagem. Tentando associar palavras. Percebi que a técnica tinha uma importância muito pequena. Parece-me agora mais uma questão de agilidade, tanto com o uso do equipamento quanto percepção.

Surge então uma segunda idéia: conflito. Vejo na foto muitos antagonismos. A estrutura rígida no primeiro plano contra uma paisagem suave ao fundo. A figura humana que sobe a escada contra a solidez estática da estrutura construída. Rígido contra suave, movimento contra estático.

A figura humana é a única coisa que se move. Movimento este que leva a transformação. Ao desaparecer surge em seu lugar uma forma geométrica, um retângulo branco. Parece que o humano está se transformando numa forma rígida. E o rígido negro dá muita força a foto, mas observando com cuidado, percebo que os espaços "vazios", brancos, também são rígidos, são formas bem marcadas. A foto está firmemente presa nas formas geométricas.

Kertész dividiu a realidade em retângulos, criou um grafismo muito bem equilibrado, controlando todos os espaços. Realmente não sei se a composição original foi feita na câmara ao fotografar. Nem o nível de consciência do fotógrafo ao fazê-la, mas no que vejo parece-me que esta foto é uma criação muito racional, planejada. Me pergunto quanto tempo ele teve para criá-la.

La Disparition e algumas fotos da série de nus Disforsion, foram das primeiras fotos que vi de André Kertész. Elas me provocaram uma necessidade de ver e saber mais sobre ele. E esta foto, em especial, me mostrou uma nova possibilidade de fotografar, uma releitura da realidade, a possibilidade de superar a limitação do real usando apenas como recurso a seleção. Desde então comecei a olhar com mais cuidado os ditos fotógrafos clássicos, como Bresson, Lartique, Weston e outros. Henri Cartier-Bresson, mais do que outros, mostrava-se radical em seu fazer, apenas aceitando o que era captado por sua Leica nada mais, nada menos. Selecionando o momento que tudo diria, que chamou de "instante decisivo". Assim comecei a criar sem interferir. E Kertész com sua imagem limpa, construída com poucos elementos, preocupado com formas e espaços, provocou algumas mudanças no meu fotografar, mas principalmente no meu ver.

Herbert M. Macário
1993

Boa Música

Segue mais uma do Big Boy! Hello, Crazy People!!!! Volume I

Meu irmão, Ricardo, é um colecionador da boa música (cerca de oito mil cds). A tempos sugeri que ele fizesse uma coletânea de rock dos anos 70.
Para esta coletânea foi dado o nome de "Big Boy! Hello, Crazy People!!!!" em homenagem ao mais famoso e revolucionário disc-jockey (DJ) do Brasil.
Nascido Newton Duarte, o carioca Big Boy foi o principal responsável pela modernização musical do rádio brasileiro e pela apresentação do rock e do pop de qualidade à juventude da época.
O Big Boy! Hello, Crazy People!!!! já está no volume 18, então podem aguardar novas postagem.
Mas não só de rock'n roll este blog vai viver, o nome da coluna é BOA MÚSICA!!!!!


MusicPlaylist


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segunda-feira, 16 de junho de 2008

CALVIN E HAROLDO

As famosas tirinhas, no 2º caderno dos jornais me acompanham desde criança.
Com o passar do tempo, foram amadurecando, assim como eu.Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes), de Bill Watterson, nos anos 80 sempre trazia grande prazer. Calvin é sarcástico e muitas vezes cruel, Haroldo, é irônico e altamente filosófico.


Em homenagem ao Teatro segue nesta ótima série :











sábado, 14 de junho de 2008

Sexta-Feira 13


Este post está um pouco atrasado
uma pequena homenagem ao principal símbolo da sexta-feira 13

sexta-feira, 13 de junho de 2008

BOA MÚSICA

Para começar o final de semana com boa música, relembrando os tempos da Rádio Mundial, onde o inovador radialista Big Boy, gritava "HELLO, CRAZY PEOPLE"


MusicPlaylist

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Série Cias. de Teatro do Rio



Cia. Teatro Autônomo

Clássicos Modernos







Descobri esse grupo tarde demais, acompanho seu trabalho apenas a partir do espetáculo “Deve Haver Algum Sentido em Mim que Basta”, depois vi “E Agora Nada é Mais Uma Coisa Só” e agora “Nu de Mim Mesmo”.

Na primeira vez que fui ao teatro ver uma montagem dessa Companhia, antes de começar o espetáculo, lendo o programa e tomando conhecimento do que se propunha o grupo e especialmente a montagem que ia ver, fiquei apreensivo e de antemão, levemente mal humorado com o que ia ver. Pensei... Mais um grupo... Mais um diretor que promete em textos muito bem escritos, na verdade incompreensíveis, prenhes de frases de efeito e que no fundo, prestando alguma atenção e procurando entender, eles não dizem rigorosamente nada. Pior... O espetáculo que se assiste em seguida, nem chega perto das intenções pretendidas , e com muito mais freqüência ainda, a peça não tem nada a ver com que está escrito. Paciência, isso acontece muito por aqui... Aí veio a terceira chamada e a luz apagou... Começou o espetáculo.

Fiz essa introdução para dizer que a Cia. Teatro Autônomo, não tem nada a ver com o que está escrito ai em cima. O grupo consegue teatralizar o que pensa, desenvolver até mais do que promete e se propõe, e o faz com muita competência. Fiquei encantado e mais que isso, sai do espetáculo com a impressão de que alguma coisa nova havia sido acrescentado à linguagem e estética teatrais, pelo menos para mim, só não sabia o que. Procurava na minha cabeça enquadrar o que acabava de assistir com alguma convenção teatral que conhecia ou já tinha visto e não encontrava nada. Uma contribuição e tanto para o teatro brasileiro, para o do Rio de Janeiro então, eles estão acima do bem e do mal.

O diretor criou uma linguagem de palco desconhecida para mim. Aparentemente, ele imprime a cena, uma convenção naturalista na escolha do texto, na interpretação, no figurino, objetos de cena, (o cenário foge um pouco, determina um espaço simbólico e atemporal sempre), a trilha também, as vezes confirma e exalta a emoção ( outra causa estranheza). Mas trata-se de um naturalismo tão extremo, tão levado aos limites, que acaba por colocar uma lente de aumento potentíssima que ultrapassa essa linguagem, revelando e refletindo de maneira poderosa as relações humanas e nossa pobre e frágil condição humana, nossos sentimentos, sonhos, decepções, idiossincrasias, a ponto de







vermos com uma clareza imensa o absurdo de estar num mundo cada vez mais fragmentado , individualista e com pouca esperança. Isso tudo sem recorrer a nenhuma das conhecidas técnicas do dito teatro do absurdo. Essa lente de aumento também mostra a potencialidade da própria arte teatral, e essa interpretação naturalista do mundo, aparentemente emocional, da forma como é estabelecida, em vez de te envolver em uma atitude contemplativa e serena como a maioria das vezes seria lógico, te distancia e instiga.

É curiosa a relação que as montagens estabelecem com o público, penso ser conseqüência não só da manipulação e controle de todos os elementos teatrais, mas principalmente da construção do espaço, bem pensado e bem elaborado na sua distribuição de objetos , nos recursos explorados durante a ação e no posicionamento do público. Esse espaço nunca é dissociado da ação, ao contrário, completa-a e explica-a. Curioso notar como o grupo sempre propõe e realiza um avanço da sua proposta, em relação ao espetáculo anterior e em como a convenção impressa no espetáculo coloca sempre o público em movimento, interior ou não, mas sempre a vontade. Não se trata do público se movimentar em espaços diferentes para acompanhar a ação, recurso muito usado, mas sim no fato do público escolher o que quer ver ou até, se quer ver a cena ou não, ou de que maneira. É dado a platéia, o direito de refletir calmamente, sem pretender entender tudo. O público acaba escolhendo o que vai ver e não perde nada. Afinal, é como a gente vê a vida, mais ou menos a gente escolhe o que quer e o que não quer ver ou viver, e criamos nossas próprias estruturas na imaginação.


A Cia tem um núcleo artístico fixo, fundamental creio, para continuação de suas propostas. Um elenco equilibrado , valioso e competente. Direção, dramaturgos e técnica talentosos e absolutamente conscientes das suas funções e possibilidades. Formam a trupe: Jefferson Miranda-Diretor; Flávio Graff-Diretor de Arte e Dramaturg; Felipe Storino-Diretor Musical; Renato Machado-Iluminador; Miwa Yanagizawa- Atriz; Otto Jr-ator; Adriano Garib-Ator; os convidados Gisele Fróes-Atriz; Fabio Dultra-Ator; Julia lund-Atriz e sempre que vi, os mesmos produtores Sergio Sabóia e Silvio Batistela.

O trabalho de direção de arte é surpreendente, pensado para ser bonito, funcional, objetivo e altamente informativo, tudo o que é preciso para contar bem uma estória. Antes, em montagens anteriores, eu acho, havia no espaço como um todo, uma preocupação estética mais definida, uma unidade, certa limpeza. Hoje, acho que há no espaço criado, principalmente no último espetáculo, uma fragmentação e um desmembramento de leituras e recursos talvez exagerado, o que pra mim suja um pouco a cena na sua totalidade. O foco, a pequena ação que é desenvolvida, continua sendo objetiva e inteira, mas as vezes deslocada do resto. Tenho também para mim que há um uso excessivo da tecnologia, pessoalmente acho desnecessário e que não acrescenta ao espetáculo. Foge para mim, dos elementos primordiais, dos objetivos e do ritual teatral.







Os Figurinos são adequados e informativos, os objetos de cena são significantes. Dizem que uma boa luz é a que não aparece ou só aparece quando solicitada para reforçar alguma idéia ou ajudar na leitura do que é narrado, ou seja , para dar luz a cena, é esse o caso. A trilha complementa a informação, comenta, estabelece emoções e climas. Marcas e gestual interpretativo são esclarecedores, significativos, objetivos e econômicos. Enfim, os elementos que compõem a cena estão em perfeito equilíbrio, cumprindo sua função teatral com uma unidade impressionante, todos direcionados e refletindo apenas uma idéia. O teatro poucas vezes consegue estabelecer um dialogo tão profundo e conseqüente com a platéia e com o próprio teatro.

A Dramaturgia flui como a vida, com uma simplicidade somente aparente, mas que imagino, ser de um grau de dificuldade razoável para atores não preparados, não exercitados para as propostas do grupo e objetivos pretendidos. O texto ganha um novo sentido, exige que o ator se reestruture para o exercício dramático e a historia que está sendo contada tem sempre prioridade absoluta. O diretor tem a rara capacidade de se apropriar das diversas teorias, escolas e práticas teatrais e de usá-las ao seu interesse e em função do que pretende. Faz do teatro um acontecimento especifico, os elementos se completam, são indissociáveis, vinculados, dão eternidade ao teatro, torna a cena um clássico moderno.


A Cia Autônomo pratica um teatro inteligente, pena que a cena carioca, muitas vezes voltada para o fácil e o vazio do mercado, não valorize a altura essa forte e valorosa contribuição para o teatro brasileiro. É uma pena o fato de que, quase não temos mais críticos e analistas teóricos, que contextualizem e esmiúcem seu processo de trabalho. Aplausos para esses Atores, Diretores, Técnicos e Produtores. Inteligentes, visionários ou não, que com dificuldades ou não, insistem e entendem a importância desse trabalho.


“O que vem depois? O que resta das ações humanas?... Somente a memória ou exclusivamente o silêncio?”. * Esperemos que não.













*- texto do grupo
Site da Cia. – www.ciateatroautonomo.com.br

Babinski

As gravuras de Babinski são impressionantes
Recomendo



"Maciej Antoni Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931 . Estudou desenho e gravura em Montreal, Canadá, onde participou ativamente da vida artística, expondo com o grupo "Les Automatistes" em várias ocasiões. Lá, realiza a sua primeira exposição individual em maio de 1953, e pouco tempo depois, desembarca no dia 6 de agosto de 1953, no porto do Rio de Janeiro, como imigrante"
Elizabeth Nasser
Curadora









CAIXA Cultural do Rio de Janeiro
Galeria I
Av. Almirante Barroso, 25 Centro, Rio de Janeiro, RJ
Exposição até 15 de Junho

quarta-feira, 11 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Série Cias. de Teatro do Rio


Série Cias. de Teatro do Rio


Amok Teatro




Cartas de Rodez*



Esteve em cartaz uma retrospectiva de espetáculos da Cia. AMOK TEATRO do Rio de Janeiro na sala Nelson Rodrigues da Caixa Cultural. Assisti a três espetáculos dessa companhia. Dragão, Savina e as Cartas de Rodez, este infelizmente teve que ser interrompido logo no começo da função. Não sou amigo dos seus integrantes, nem dos seus diretores, Ana Teixeira e Stephane Brood e isso me deixa mais a vontade. Depois descobri, visitando o site do grupo, que já os admirava e respeitava por trabalhos anteriores, vistos antes e que não lembrava, ou lembrava pouco. Recomendo o site para se ter uma idéia da estrutura, propostas e seriedade do Grupo.




Macbeth


O AMOK é um grupo, que na escolha do seu repertório, não se preocupa com os temas ditos atuais ou com a realidade imediata. Trata o teatro na sua qualidade maior que é o de ser eterno, elevando seus espetáculos, independente do tema ou época da ação a categoria de clássicos, tocando ao mesmo tempo a razão e a sensibilidade de quem os assiste. Nos trabalhos do grupo o que encanta de imediato é o rigor formal com o qual seus espetáculos são conduzidos, sua clareza no tratamento e condução das idéias, o cuidado, a quase perfeição com o trabalho corporal do elenco e a qualidade de interpretação de parte do elenco, em especial um ator, Stephane Brood, (também diretor) com uma presença cênica, domínio vocal e físico surpreendentes.



O Carrasco


O trabalho desse ator é tão expressivo e forte, que o grupo parece criar certa unidade, a partir dos seus resultados, dá a impressão que a sua potencialidade serve de parâmetro para a construção, desenvolvimento e conseqüente resultado do trabalho de todo o elenco. No plano corporal, o grupo alcança um equilíbrio e uma qualidade excepcionais, dando ao espetáculo a credibilidade que o tema, época e conteúdo das peças exigem, tarefa difícil, já que todos os espetáculos que vi, trazem em seus conteúdos, signos de outras culturas e épocas distintas. Infelizmente ainda, parte do elenco demonstra algumas deficiências na formação vocal, prejudicando um pouco o brilho e as nuances das intenções do texto e conseqüentemente, um maior aproveitamento.
O programa das peças explica que o trabalho do grupo coloca o ator e a linguagem física no centro do ato teatral, e é verdade. Diz também que esse trabalho está apoiado em dois eixos: Antonin Artaud e Etiennne Decroux, artistas que confesso, não ter muita intimidade e até mesmo, confesso novamente, não entender como colocar em pratica as teorias do primeiro. O que eu vi foi um rigor, criado a partir do que eu entendo do gestus e distanciamento brechtiano, do trabalho corporal de Grotowski e uma boa dose de Stanislavski. Mistura difícil, que poucos sabem mediar, dosar as partes e conduzir com sucesso. É interessante notar que a carga de emoção colocada no espetáculo, através de uma interpretação realista, um naturalismo com um tom acima, econômico e significante, que a principio, contrasta com a forma distanciada das transições de cena, da arrumação do espaço e da preparação do elenco à vista do público,



Antonin Artaud


Etienne Decroux




(lembrando que estamos no teatro) aumentam o nível da teatralidade. A condução das marcas (com pequenos exageros facilmente corrigíveis), a beleza, a economia e a precisão dos gestos sociais e pessoais, a emoção dos personagens a solta, mas direcionada e bem dosada, além de serem um grande diferencial da direção e do espetáculo, dão aos textos, que são histórias simples e as vezes perigosas na sua condução, (no caso de Savina, um dramalhão Cigano, pode-se dizer, no limite do risível) uma grandiosidade e dignidade teatral que pouco se vê. Isso tudo, não seria possível se a convenção estabelecida no palco não estivesse absolutamente controlada e bem conduzida pela direção e elenco.
A musica pontua o desenvolvimento emocional e informa, está apoiada numa pesquisa de extrema seriedade e riqueza e exerce um papel fundamental na condução do clima e estética do espetáculo. A propósito, a seriedade da pesquisa para construção dos espetáculos como um todo, pouco se vê no as vezes, frágil e fútil teatro do Rio e só por isso, já seria motivo de orgulho para classe teatral.
Figurinos, adereços de cena e luz cumprem seu papel de forma eficiente e adequada. Eles, além de belos, informam sobre os personagens, situam o espaço e o tempo de forma atemporal, além de criar o clima correto para o desenvolvimento da ação e da linha de emoção. A repetição de formulas nas marcas de transição e na condução dos três espetáculos que eu vi, são harmônicos entre si, mas um pouco repetitiva e talvez precise ser repensada.
Pode parecer inusitado e estranho que eu diga, mas é muito bom ver espetáculos onde se percebe que elenco, direção e técnicos sabem o que estão procurando, sabem o que estão fazendo e porque estão fazendo. Por incrível que pareça é um fato raro por aqui. Se erram ou se ainda, em algum segmento do espetáculo, não chegaram à perfeição, sabem que tudo é um processo e que o caminho é longo, sabem que se fizerem um espetáculo perfeito, não vão ter mais para onde ir e aí teriam que parar e ninguém quer que eles parem.
Parabéns ao Grupo, parabéns aos produtores Sergio Saboya e o Silvio Batistela e a equipe deles, que acreditam e apostam nesse tipo de proposta. Sei que eles produzem e apóiam outros grupos com as mesmas características, outra coisa muito rara de se ver por aqui. Finalmente, parabéns a quem torna possível esse grupo sobreviver e continuar seu trabalho, pela sua visão de futuro. Sabemos que no Brasil e no mundo todos os trabalhos conseqüentes, todos os trabalhos que mudaram ou acrescentaram algo de novo ao teatro nasceu a partir de grupos e pessoas que se dedicavam mais a sua arte e ao seu ideal de trabalho, do que ao sucesso fácil e imediato tão comum hoje em dia.


*Fotos do grupo retiradas do site - www.amokteatro.com.br

terça-feira, 3 de junho de 2008

Os Mestres: André Kertész



André Kertész nasceu em Budapeste, no ano de 1894 e começou a fazer carreira na Alemanha, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Kertész compra sua primeira câmera aos dezoito anos, mas afirmava ter escolhido sua profissão aos seis anos de idade, diante de um álbum de família. Ainda na Hungria, fotografava de tudo. Diplomado na Academia de Comércio, trabalhou alguns anos na Bolsa de Valores de Budapeste. Serviu na Primeira Grande Guerra. Foi ferido, passando um ano enfermo. Depois da guerra, muda-se para Alemanha, atuando como fotógrafo nos principais jornais e revistas. Integra a nova visão de fotografia disseminada por Erich Salomon. Porém, com a ascensão de Hitler, vários intelectuais, artistas e jornalistas deixam a Alemanha, inclusive Kertész. Os refugiados espalham uma nova fotografia e principalmente um novo modo de ser fotógrafo. Kertész se instala em Paris. Escolhe para morar Montparnasse, bairro preferido pelos artistas, ficando amigo da vanguarda parisiense. Rapidamente desponta com sua sensibilidade. Na época surge a revista Vu, que revoluciona o gênero com a valorização da fotografia. Kertész faz parte do grupo de fotógrafos que trabalhava para a revista. Além de trabalhar como jornalista, realiza vários projetos pessoais.

Quando Cartier-Bresson começa a fotografar, tem André kertész como referência. Seu mestre. Além da forma sofisticada de sua imagem, Kertész dá início a um novo fotógrafo andarilho, que também é uma das marcas de Bresson. “Kertész é o único fotógrafo que me excita”, diz Bresson a um amigo, anos mais tarde. No entanto, seus trabalhos são bem distintos. Diferente de Bresson, Kertész capturava o mundo em suas sutilezas. Valorizava a forma e sendo mais aberto com a mensagem. Em vários momentos havia um ar surrealista ou uma realidade fantástica. Mas ele se descrevia como um fotógrafo realista. Uma mão no ombro, uma sombra, um garfo encostado num pires, um nu distorcido. Kertész é pura poesia. Nenhum tema era insignificante para seu olhar. Ele via o mundo de forma singular, em recortes fantásticos. No entanto, sem fugir da técnica fotográfica. Admiro Bresson por seu estilo e a precisa composição, mas é na poesia de Kertész que me realizo como artista. Ele me mostrou como a fotografia poderia ser arte mesmo enquanto fotografia. A fotografia de Kertész não queria ser pintura como a dos fotógrafos Pictoralistas, nem transbordar a realidade como o surrealismo de Man Ray. André Kertész fazia arte enquanto fotógrafo.

Em 1936, foi convidado para trabalhar em New York. O amigo Man Ray, um norte-americano, aconselhou a ele que não fosse. Kertész aceitou o contrato e partiu de Paris. Anos mais tarde, diria: “foi o maior erro da minha vida”. Não gostava dos Estados Unidos, preferia a Europa, mas nunca voltou.

A fotografia de kertész é poética e humanista. Certa vez, convidado para trabalhar numa revista em New York, os editores acabaram o dispensando porque sua fotografia era muito significativa. Era doce. Queriam um registro mais brutal do mundo. Existe elogio maior que esse?

“Fotografar, quer dizer sentir. Ver, não é suficiente. A câmera enxerga também, mas não sente” André Kertész

Conheci o trabalho de Cartier-Bresson primeiro, mas foi com Kertész que percebi a fotografia como um fazer artístico. Bresson me deu o prazer da caçada, a técnica do arqueiro, mas kertész me deu a poesia e o valor das sutilezas. Permitiu-me um olhar mais poético aos detalhes que formam nossa existência. Enquanto Bresson espreitava sua presa, kertész convidava com um sorriso. A fusão dos dois me tornou um poeta caçador.
Herbert Macário