sábado, 28 de junho de 2008

PEDRA: A trajetória da imobilidade

Vagava...
Em tempos sem medida
Em espaços sem medida
Levada pelos ventos

Não sei como, algo mudou
Numa espiral
unindo a outros como eu
milhares de bilhões
quase infinitos
Unindo-me a estes, entro em transformação
Lama incandescente, pedra, areia,
pedra, lama,
pedra

O tempo nos esfriou
nos fez um
-Sou pedra-

O tempo age mais uma vez,
faz vida em minha pele
milhares

Não há o que fazer
apenas observo
Algo age
algo me move em torno da luz

Na minha pele a vida se multiplica
milhares se tornam bilhões
quase infinitos
No princípio gostava ...
tudo era novidade
às vezes forçava um movimento aqui e ali
era divertido ver como a vida reagia


Hoje estou cansada
o tempo passa lento ...
- Apenas observo -

Eles surgiram
tentando me compreender e dominar
me cobrem de fios
tiram o azul de meus fluidos
transformam minhas partes
Eles se aglomeram, mas não se tornam um
Não se integram
Fincão agulhas de vidro e aço em minha pele
São tantos, que às vezes me incomodam

Nunca irão me compreender
Não importa
Eles não percebem o quão são frágeis
Não são como eu, estão sempre se movendo
não sabem parar
Não conhecem a imobilidade
O "se deixar levar"
não conhecem o "algo" que nos move
Não há sentido em querer tanto

Não importa
em pouco tempo serei levada
no espaço voltar a vagar
Algo me guiará na liberdade dos ventos
só preciso esperar

Hoje sou imensidão
prefiro ser pó
sou uma poeira muito grande para me soltar da luz
mas falta pouco ...

A vida de minha pele me deu um nome
talvez seja a primeira pedra com nome
Eles são engraçados
às vezes gosto deles
talvez sinta saudades
não importa
a escolha não é minha
Falta pouco tempo
para voltar a vagar


Herbert Macário


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