quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sugestões





Ainda sobre Shakespeare




Só para complementar a minha ultima postagem sobre o William Shakespeare, faço alguns comentários e sugestões a respeito das adaptações, montagens e...outras coisas, que foram feitas a partir da sua obra mundo afora.



Teatro



A grande maioria das adaptações teatrais feitas no Brasil das peças de Shakespeare sofre do mesmo mal: Excesso de ação, excesso de aproximação com a realidade atual. Às vezes pelo figurino, outras pelo cenário e o pior, muitas vezes pelo texto, pelas palavras, coisa muito cara a Shakespeare, tornando a montagem, às vezes até regional. Outras montagens apelam para piadas, posturas interpretativas ou tiradas da moda.
Tento explicar. É verdade que o teatro elisabetano e notadamente Shakespeare introduziram a ação no teatro, mas, não a ação como a entendemos hoje, com aquele ritmo alucinado que a TV e o cinema nos enfiam pela garganta e que acabam, ao final das contas, ditando o ritmo das nossas vidas e das nossas cabeças. Nessas montagens há uma preocupação exagerada com a linguagem visual em detrimento à palavra, uma preocupação em mostrar tudo e de forma mastigada, quase infantil, não deixando espaço para imaginação, o corte das falas e cenas às vezes é tão exagerado, que acabam por tratar os assuntos de forma rala e vazia.
Ora, a ação de Shakespeare significava apenas que ele preferia mostrar alguns acontecimentos em vez de narrá-los como antes fazia o teatro clássico, mas não abria mão da palavra, e era através das palavras que formávamos as imagens que nos emocionavam, era onde ele estabelecia os climas adequados, era através das palavras que nos informava sobre as situações e sobre as nuances das personalidades dos personagens e seus respectivos estados de alma. Em suma, a palavra era fundamental, e desaprendemos nestes últimos tempos a valorizá-la. Não sou contra adaptações, o cinema as faz muito bem... Às vezes. Mas o caso é que, se lemos uma obra de Shakespeare e vemos que ela é atual, na verdade se a quisermos montar simplesmente como ela está no papel, certamente o publico verá a mesma coisa. Portanto... Menos minha gente.
É claro que não são todas assim e já vimos montagens memoráveis por aqui. Lembrei-me apenas de três. Para mim, foram realmente antológicas e embora adaptadas de alguma forma, conservaram o espírito de tudo o que eu entendo por Shakespeare. São elas:



















A filmografia das obras de Shakespeare é rica e na sua maioria de boa qualidade, foram produzidos alguns filmes muito bons e outros nem tanto. As adaptações para o cinema, talvez até em função dos textos que se prestam lindamente ao formato cinematográfico, textos que trazem imagens ricas, que estimulam a imaginação do leitor e que contém descrições de climas e caracteres de personagens que dão materiais inestimáveis para qualquer cineasta. Mesmo as leituras mais modernas são boas, parecem preservar uma tradição, a alma da obra de Shakespeare. Digo isso, porque nós atores e diretores brasileiros, sabemos da dificuldade em se montar, interpretar e muito mais ainda em se adaptar Shakespeare. O texto traz nuances que parecem confirmar a necessidade de certa maturidade, de uma experiência teatral e de vida que nem sempre temos. O fato é que não podemos interpretar o Romeu com 45 anos, que é quando atingimos essa maturidade. Talvez pelas traduções, talvez pelo respeito ou desrespeito que possamos ter ao texto clássico... Não sei. O fato é que existem elementos enganadores no texto, o empolamento das falas, as suas formalidades datadas, uma realidade com valores, às vezes distantes dos nossos, etc. O certo é que ele nos leva a posturas nem sempre naturais ou condizentes.
Na Inglaterra temos dois monstros sagrados, shakespeareanos desde criançinha, um é a continuidade do outro, diria que um é o outro em outra época: Laurence Olivier é mais literal, tem uma leitura mais tradicional e teatral, mesmo no cinema, os tempos de cena são diferentes das que vemos hoje. Já Kenneth Branagh é mais moderno, domina a tecnologia e o formato do cinema atual. Embora não seja o caso de Shakespeare, porque não é nem realista nem naturalista, é interessante lembrar que o naturalismo e realismo do cinema atual não é o mesmo do naturalismo e realismo do cinema de antigamente. Mudaram os tempos, a própria forma de interpretar, o naturalismo mudou, o mundo mudou,(vejam filmes antigos do Marlon Brando e James Dean, ambos da escola Stanislavskiana). Mesmo assim, com os tempos novos ou antigos, eles, nossos dois atores cineastas traduzem com fidelidade as obras de Shakespeare, vão aqui algumas sugestões:



























Brannagh é nosso contemporâneo




























Os Japoneses




Trono Manchado de Sangue de Akira Kurosawa, adaptação do Macbeth. Traz no elenco
Toshirô Mifune, Isuzu Yamada, Minoru Chiaki, Akira Kubo, Takashi Shimura, Takamaru Sasaki, Kichijiro Ueda, Hiroshi Tachikawa, Takamaru Sasaki, Kokuten Kodo, Eiko Miyoshi







Os americanos. Bom, eles são americanos.









Orson Welles em Otelo.
Bem intencionados, os dois, mas acho que ficam devendo alguma coisa. A fotografia é belíssima.






















Outros filmes sobre o período elisabetano:

















Elizabeth e Elizabeth, a era de ouro. Filmes poderosos, boas reconstituições. O segundo talvez se perca um pouco. Condensam de forma adequada a historia da rainha virgem e se utilizam de alguns simbolismos caros a época, mas com clareza. A direção é de Shekhar Kapur e traz no elenco a maravilhosa Cate Blanchett como a Elizabeth I, além de Geoffrey Rush como Sir Francis Walsingham.



Literatura



Os livros sobre Shakespeare e sua obra são incontáveis. Na verdade, são poucos os que trazem alguma novidade, praticamente todos dizem a mesma coisa. Às vezes um autor para se diferenciar dos outros, cria alguma teoria bizarra. Separei dois para indicar, verdadeiramente bons e esclarecedores, um estrangeiro e um brasileiro:



Shakespeare – Nosso Contemporâneo
Jan Kott
Esse é sem duvida é o melhor livro que já li sobre Shakespeare. O outro é o da nossa critica teatral Barbara Heliodora, que é uma das maiores especialistas em Shakespeare do mundo.


A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare
Barbara Heliodora

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