domingo, 22 de fevereiro de 2009

impressões

Impressões



Estava esperando as outras portas que entendem mais do assunto manifestarem suas opiniões a respeito da exposição do Vik Muniz, como ninguém falou nada até agora vou me ariscar, afinal é consenso nosso comentar e dar impressões mesmo em assuntos que não dominamos muito.
È impossível não gostar da obra de Vik Muniz ou sair da sua exposição com críticas ao seu trabalho. Ele é talentoso demais, virtuoso demais, habilidoso demais. Então o que é que está faltando?
Li em algum lugar que ele tem formação publicitária, aí descobri o que me incomodava. Não que o fato de ser publicitário seja demérito, pelo contrario, mas a sua obra acaba sofrendo muito a influência desse formato. Tento explicar.
Parece que ele tem uma única mensagem a passar com a obra em que trabalha. A partir da mensagem definida e fazendo uso de técnicas diversas, usa os materiais adequados à idéia, no espaço adequado e no tamanho adequado. O problema é que não fica espaço para imaginação do observador, para emoção e a ambigüidade. Só existe, parece, uma única leitura para cada uma das suas obras.
Em algumas ele chega à perfeição, como por exemplo, no seu magnífico mapa mundi, onde passa uma idéia perfeita de um futuro não muito promissor para o nosso planeta.















Fiquei, confesso, no interessante, quando vi suas obras, ou no muito interessante e não passei disso. Fiquei imaginando que se não fosse o inusitado do material usado, como o açúcar, a calda de chocolate, o Catchup em suas obras, (não é de hoje que a arte contemporânea usa materiais que causam estranheza, como lixo e outros), o que sobraria?
Li esse comentário em algum lugar.

...Meio século e meio depois da invenção da Fotografia, Vik Muniz reinventa a linguagem e a mídia fotográfica. Trabalho com jogos cognitivos, truques e manipulações que destacam o ilusionismo intrínseco à instantaneidade fotográfica. Na produção de pouco mais de duas décadas questiona a interpretação, a representação e a veracidade das imagens, abusa das antinomias entre o fato e a ficção, a alta e a baixa cultura, o falso e o verdadeiro das informações. Trabalha com figuras já vistas, propriedades de um imaginário coletivo internacional, dando-lhes novas formas em releituras irônicas, propondo a questão crucial: "A retina mente"...

Isso para mim é recurso da publicidade, e as vezes, da má publicidade, não me diz nada enquanto arte, acho invenção e também duvido que a fotografia seja isso ou queira se tornar isso. Em outro comentário li:

Vik devolve as catástrofes da cara do mundo, pega os detritos e recicla-os. Os materiais e os homens que a sociedade excluiu são seus assuntos.
Do lixo aos diamantes ele reinventa a tragédia que se esconde nas sobras sujas ou revela o ridículo que se disfarça no luxo
Seus trabalhos são mais do que artísticos, eles apontam para uma nova atitude, não apenas de pintar ou criticar, mas de mexer no mundo, de invadi-lo.
Em vez de uma arte fria e desesperançada, Vik restabelece uma atitude estética, ecológica e política, com a mão na massa, no ouro e na merda, ela cria esperança.

Acho lindas essas frases feitas, causam impacto, mas não me dizem muito.
Sobre a exposição no MAM alguém escreveu:

...Postada diante do quadro, a mulher se concentra e examina a imagem por alguns segundos antes de se decidir: - Geléia e doce de leite!
Uma discreta expressão de ceticismo surge no rosto da amiga a quem o comentário foi dirigido. A mulher resolve se aproximar para confirmar. – Ah, não: é geléia e manteiga de amendoim – reconhece o erro, explicando-se – manteiga de amendoim é uma coisa que nunca pegou por aqui. Lembra daquele amendocren?
Dirigindo-se à próxima obra, elas prosseguem com entusiasmo o jogo de adivinhação numa atitude que parece estranha se considerarmos onde estão, mas que é típica entre os visitantes da exposição do brasileiro Vik Muniz...
...Não só diante da “Mona Lisa dupla” de geléia e amendoim, mas por toda parte surgem entre os visitantes polêmicas na linha “como diabos ele fez isso?!”.
Já os adolescentes ... e ... de 17 anos, estavam completamente decididos, ainda que lacônicos.
— Incrível — ela disse.
— Muito impressionante — ele completou.
Ali por perto, uma senhora comenta com a amiga:
— Realmente, um dos grandes artistas do nosso tempo.
Descansando num banco com a namorada ..., o militar ... concorda.
— É a melhor exposição que já vi até hoje. É uma coisa clara, não é só para aquelas pessoas que já se aprofundaram no assunto. Você consegue entender.
Um discurso afinado com o do próprio Vik Muniz:
— Quando crio meus trabalhos, não imagino um público específico: pode ser o cara da padaria, o vigilante do museu ou um filósofo. Tento partir de coisas primárias, básicas, e daí construir algo que seja ao mesmo tempo inteligente e acessível. Não são todos que consideram importante esse compromisso do artista com o público. Para muitos, o diálogo do artista consigo mesmo é até mais importante. No meu caso é diferente — afirma...

Isso sim diz muito, para o bem e para o mal. Volto a lembrar que o que escrevo, são só impressões de alguém que não tem muita autoridade no assunto, mas que se arisca a colocá-la. A verdade é que em tudo, em todo seu trabalho, eu consigo ver uma grande criatividade, e criatividade pra mim, é apenas um dos requisitos para um grande artista. Não consigo afastar a idéia da publicidade e das idéias marqueteiras de hoje em dia e isso me incomoda.
Suas obras são obras de arte? Acho que são. O conceito de arte hoje em dia está muito ampliado. Se pensa e se observa a arte de outra forma, as mensagens talvez tenham que ser mais rápidas, não se pode perder tempo, talvez daí a necessidade de técnicas publicitárias. Outro dia eu dizia em um comentário aqui mesmo no blog que – ...hoje, o que acontece, às vezes, com a arte dita contemporânea, é que o observador passeia por cima, por dentro, pelo lado ou embaixo de uma obra, a toca, troca socos, pula na sua frente, fala com ela, faz careta para ela e quase sempre, ela é incompreensível (por isso mesmo, considerada boa) e mais, quase nunca pode se levar ela para casa, nem se quer...
Pelo menos a obra do Vik Muniz é clara, conseguimos entende-la e queremos levá-la para casa ou usá-la em grandes painéis, em saguões de Empresas, Hotéis, Palácios de Governo, etc.
Se isso for arte, eu definitivamente não gosto dela, se for outra coisa que ainda não definiram o que é, mas que é novo e está agregando valores do nosso tempo, eu gosto muito.
A palavra está com vocês.

Vik Muniz – auto retrato

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