sexta-feira, 30 de maio de 2008

Poemas úteis

Poemas úteis


Um Homem é um Homem...
Afinal o que é um Homem?
B. Brecht



Não é que não goste de poesia, eu não as entendo... Ou não me identifico, sei lá.
A verdade é que eu entendo uma flor, até mesmo uma pintura tosca de uma flor, mais do que o poema sobre a flor. Também sou capaz de entender uma pessoa apaixonada mais do que um poema sobre o amor.
Gosto desses poemas abaixo, pra mim eles fazem sentido. Eles têm, digamos, uma função social e aqui vai uma idéia particular e que nem todos concordam: Acho que uma obra de arte além de ter que ser uma extensão do artista, do que ele acredita, deve ser útil, ter uma função social, nem que seja a de trazer paz de espírito ou divertir a gente cansada. A idéia de divertir pode ser inteligente, pode trazer consigo o raciocínio, como dizia o Galileu do Brecht, “pensar é um dos maiores prazeres da raça humana”, e também “penso melhor quando estou com a barriga cheia”.


*

Maiakovski (1893-suicidado em 1930)


Na primeira noite, eles se aproximam
E colhem uma flor no seu jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
Pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra
Sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
E, conhecendo o nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.


*

Bertolt Brecht (1898-1956)





Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como eu tenho emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo




*



Martin Niemöller ( 1892-1984) Símbolo da resistência nazista



Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
Meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
Já não havia mais ninguém para reclamar...




*


Os outros poemas são posteriores ao de Maiakovski.
É difícil acreditar que passado mais de um século, ainda vemos muita coisa que nos assusta.

Mas acabamos nos acostumando com elas. Todos nós.

Um comentário:

Unknown disse...

Pardon, papá, mas não acho que a arte deve ser necessariamente útil, seria muito chato ser artista com essa responsabilidade... Bjo!