quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os Mestres - Henri Cartier-Bresson


Um ser criativo não tem sua obra surgindo do nada. Geralmente existe um catalisador. Uma ou mais pessoas que formam a base inicial ou mudam as perspectivas de um fazer. No meu caso identifico claramente, pelo menos, três mestres: Henri Cartier-Bresson, André Kertész e Ansel Adams.



Quando vi pela primeira vez o trabalho de Cartier-Bresson não me impressionou muito. Era um livro sobre Paris. Claro que fiquei admirado com a qualidade, mas não entendia por que muitos fotógrafos o chamavam de mestre. Na época, estava em meu primeiro emprego, e foi lá que descobri minha grande paixão: a fotografia. Quem me mostrou o livro foi Carlos Carvalho, grande fotógrafo jornalista, que, aliás, lamento não ter podido explorá-lo mais, pois perdemos contato. Carlos tinha uma extraordinária admiração por Bresson. E depois percebi que muito da obra dele era resultado daquelas imagens.

Quando fazia um curso de laboratório cor, tive uma segunda apresentação. Mostraram-me a fantástica foto do homem pulando a poça (Behind the Gare Saint Lazare, 1932). Bresson fotografara um homem no ar a poucos centímetros do chão. Esta foto me chamou a atenção do que Bresson era capaz de fazer com sua Leica. Fiquei ainda mais admirado quando soube o quão difícil era aquela tomada. Uma câmera lenta, uma única chance, uma única foto!

Cartier-Bresson começou na pintura, concluindo estudos de Pintura e Filosofia na Universidade de Cambridge. Sua carreira como fotógrafo independente tem início em 1931. Ele também passa pelo cinema como assistente de fotografia de Jean Renoir e outros. Além de fazer alguns filmes documentários.

Em 1940 torna-se prisioneiro de guerra e se vê obrigado a enterrar sua câmera para que ela não caísse nas mãos dos alemães. Foge três anos depois e entra para a resistência francesa.

No fim da guerra volta a trabalhar como fotógrafo independente e a produzir livros de fotografia.
Em 1947 cria a agência Magnum juntamente com Robert Capa, George Rodger e David Seymour. Na agência, os fotógrafos eram totalmente independentes e livres na escolha de seus temas. Buscavam a profundidade reflexiva em suas coberturas além de uma grande preocupação estética.

Cartier-Bresson criou o conceito do “momento decisivo”. O momento em que a foto estaria em perfeito equilíbrio na composição e entre esta e a mensagem a ser passada. Um momento único. A foto representaria a essência da situação. Bresson parecia acreditar que era capaz de captar a realidade em seu momento de verdade. Para isso considerava sua tomada, o click, como a representação dessa verdade. Não editava com corte ou outras manipulações. A foto estava pronta já na câmera.

O momento decisivo era uma transposição do arqueiro zen e sua flecha espiritualizada. Dizia-se que “A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen” seria seu livro de cabeceira. (Obviamente eu e muitos outros o lemos). O livro é o relato de um professor de filosofia que morando no Japão resolve treinar a arte do Arco como forma de compreender a filosofia zen. Resumindo, o tiro com arco é uma experiência zen na busca da unidade. A busca do arqueiro é o tiro espiritualizado, em que ele, a flecha, o arco e o alvo se tornam uma coisa só. Quando se consegue isso, o arqueiro nunca erra o alvo. Bresson buscava algo assim em sua fotografia.

Sou impregnado com esses conceitos e fotografar para mim, ainda, é a busca daquele momento decisivo. Por muitos anos recusava a fotografia em cor e o corte da imagem, buscava fotografar como um exercício zen. Para muitos o limite na arte é castrador, mas para mim esse limite me obriga a alargar meu espaço sem transpor. A regra disciplina e aguça a criatividade. Hoje exploro as formas quadradas, panorâmicas, a cor e não sou mais tão rígido na questão do corte. Quando leciono fotografia, ainda, incentivo o aluno a começar limitando os efeitos criativos e fotografar do modo mais clássico possível. O domínio da técnica também educa o olhar. Tenho certeza de que o exercício do “arqueiro” desenvolveu o meu olhar. Por outro lado, a regra de antever a foto permanece. Aceito o acaso em algumas tomadas, mas o que me fascina é a caçada do arqueiro.

Herbert Macário






















2 comentários:

Anônimo disse...

A maestria de Cartier-Bresson me encanta, são cliks mágicos... viajo, quase que literalmente, vendo suas fotos.
Adorei a postagem.
Agora, tô aguardando André Kertész e Ansel Adams.
Bjão

Chico Expedito disse...

Oi Herbert
Adorei a postagem. Um bom texto, simples e esclarecedor pra quem não é do ramo.
As fotos então, são um presente.