quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Teatro

RECOMENDAÇÃO

Edwin Luise
em
Eu Sou Minha Própria Mulher




Estou um pouco atrasado, mas não poderia deixar de registrar nesse Blog o excelente trabalho de Edwin Luisi no excelente espetáculo do excelente texto de Eu Sou Minha Própria Mulher.
É uma daquelas montagens inesquecíveis e que enchem de orgulho os profissionais de teatro. A direção do Herson Capri e da Susana Garcia é segura e discreta, é também inteligente ao ponto de não tentar aparecer e tem a clareza de valorizar e deixar fluir e o trabalho de Edwin Luise, que é de uma qualidade impressionante para os padrões apressados e mal pagos dos nossos trabalhos teatrais. Mesmo o bom ator brasileiro,nem sempre tem o tempo a seu favor ou acha necessário um trabalho de composição muito esmerado, talvez pense que não valha à pena e acaba se defendendo como pode, utilizando velhos truques ou tirando cartas da manga como se fosse um mágico. Isso tudo passa longe diante do trabalho desse ator que se não o vermos no teatro (e não na televisão), nunca poderemos saber da extensão do seu talento e da sua capacidade de nos emocionar, encantar e embevecer. Se tivéssemos na sua interpretação, um pouquinho mais de rigor em algumas transições e construção de uns poucos personagens (parece ser mais de quinze ao todo), na verdade coisas muito sutis e pequenas, que de forma alguma compromete o trabalho ou que público perceba ou se incomode (talvez até fruto de cansaço dos muitos dias de apresentação ou tensão da hora); e se tivéssemos no cenário, um traço mais clássico, menos presente e melhor acabado, teríamos um ator e um espetáculo que não deveriam a nenhum outro no mundo, mesmo os melhores que a gente conhece e tanto cultua. Mesmo assim, está muito acima do nível corrente.
Ouvi comentários de que o tema da peça não nos interessaria, com o seu fundo histórico tão gasto e repetido. A peça não trata disso. Como não se interessar pelo que é humano? Como não se interessar por um personagem, homem ou mulher, que independente da época ou lugar que viveu nos encanta e nos fala tão de perto das nossas fraquezas e que acaba por transformá-las em virtudes, nos orgulhando e ao mesmo tempo nos deixando perplexos pelo fato de sermos gente? Parabéns.

Chico Expedito



“Eu Sou Minha Própria Mulher” é baseada na história verídica da simpática Charlotte Von Mahlsdorf, uma extravagante personagem de Berlim Oriental, conhecida por colecionar relógios, fonógrafos e móveis antigos da época de Guilherme II e que conseguiu sobreviver aos dois mais opressivos regimes do século XX, o nazismo e o comunismo, na Alemanha Oriental, montando e preservando um museu inusitado com peças antigas de casas abatidas na segunda guerra. O museu existe até hoje em Berlim e está aberto à visitação pública. Charlotte Von Mahlsdorf nasceu em 1928 e vivenciou a desumanidade dos dois regimes sem tirar as longas saias e seu colar de pérolas. Charlotte era, na verdade, Lothar Berfeld, um homem que desde a sua adolescência se travestia de mulher. O texto da peça é baseado numa série de entrevistas que ela concedeu ao autor Doug Wright.



Texto e imagens do programa da peça

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