domingo, 19 de outubro de 2008

Opinião

Teatro

Nenê Bonet



Está em cartaz no CCBB à peça Nenê Bonet, encenada pela Cia. Quem São Esses Caras?. Uma companhia estável e atuante da cena carioca, fato em si já promissor para o nosso teatro, sendo este o seu 14º trabalho. O grupo coleciona prêmios e algumas indicações a prêmios importantes do teatro Brasileiro. Esses Caras são: Antonio Fragoso, Carla Faour e o diretor Henrique Tavares , os três formam desde o começo o núcleo do grupo.
Desta vez a Cia. encena um romance de Janete Clair, nossa novelista mais famosa e que revolucionou a teledramaturgia na sua época, seus trabalhos estão envoltos em um clima de conflitos, amores dramáticos e impossíveis, revelações bombásticas, tramas e reviravoltas mirabolantes. Janete Clair sempre se serviu do melodrama para desenvolver nossos temas do dia-a-dia e sempre com alguma crítica social. A adaptação feita pela Carla Faour foi rigorosa e correta, um belo trabalho de dramaturgia que consegue transportar para cena todos os elementos existentes na obra original.
Nenê Bonet é uma adaptação de seu único romance (publicado em 2005), mas escrito semanalmente, capitulo a capitulo na década de 70 para Revista Manchete, é puro folhetim.



A montagem de Henrique Tavares tem uma virtude, ela não critica o estilo de Clair e os seus clichês (aliás, como eles próprios se propõem no programa). Só este fato em si já é muito bom, estamos um pouco cansados de atualizações estéreis de estilos e gêneros literários fixados com piadinhas da zona sul e com posturas e expressões em moda. Em vez disso a direção e elenco conseguem manter o discurso da cena a sério, sempre no limite do ridículo para os padrões de hoje, mas conservando as tensões do gênero e da trama, com o tom, posturas cênicas e estilo interpretativo corretos para o gênero encenado, mantendo em todos os momentos, vivo, o interesse do público. Acompanho esta Cia. a algum tempo, o Grupo não ousa, não faz espetáculos mirabolantes, mas sempre manteve um padrão de qualidade nas suas montagens que correspondem de uma maneira geral as expectativa do seu público. Aliás, é visível o crescimento e o domínio que Henrique Tavares vem mantendo com o seu trabalho de direção nas suas encenações, sempre apoiado por um elenco que sabe muito bem o que quer e que corresponde com um trabalho cada vez mais maduro e de muita qualidade.
“O desafio maior era levar para o palco uma historia com vários cenários, passagens no presente e no passado, e 62 cenas curtas de tirar o fôlego...” Palavras escritas no Programa.
De fato este era o maior desafio e que foi vencido pela direção com uma solução cênica eficiente e engenhosa, mas que acabou, na minha opinião, por ser o maior problema do espetáculo. A solução encontrada acaba, por força da sua repetição, cansando a platéia e o maior prejuízo talvez ainda não tenha sido este. Com um time de técnicos de primeira linha como José Dias na cenografia e Aurélio de Simone na luz, a mesma razão (a linha expressa pelo diretor como solução do espetáculo), faz com que estes artistas formidáveis percam o brilho próprio, eles pouco puderam contribuir ou criar soluções que se adequassem a linha de direção. Infelizmente o figurino de Ney madeira, descolado deste problema e que poderia ser uma excelente contribuição para o espetáculo, não corresponde e não dá a devida textura cênica para a época e estilo do espetáculo, isso se traduziu com clareza na escolha da maioria das cores, tecidos e tons do espetáculo.




No mais, temos um grupo em cena com muito vigor e um espetáculo com rigor interpretativo comovedor, que abraçou um projeto difícil, mas que faz jus e presta uma homenagem justa e merecida a obra da nossa grande novelista. O elenco bastante equilibrado, talentoso e sempre eficiente é formado ainda por Amélia Bittencourt, Alex Nader, Isaac Bardavid, Márcio Ricciardi, Priscila Assum e Viétia Zangrandi, com deliciosas narrações de Glória Menezes, Francisco Cuoco e Tony Ramos.

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