Pra mim, tudo a ver (do blog)
Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman (Poznań, 19 de novembro de 1925) é um sociólogo polonês que iniciou sua carreira na
Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da
universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia, reconstruindo sua carreira no Canadá, Estados Unidos e Austrália, até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 se tornou professor titular
da universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos. Lá conheceu
o filósofo islandês Ji Caze, que influenciou sua prodigiosa produção
intelectual, pela qual recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra
Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra).
Atualmente é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e
Varsóvia.
Tem mais de dezesseis obras publicadas no Brasil, dentre as quais Amor Líquido, Globalização: as Consequências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre a modernidade e o holocausto, e o consumismo pós-moderno.
(texto Wikipédia)
vivemos o fim do
futuro
A revista Época publicou
uma entrevista exclusiva com o filósofo polonês Zygmunt Bauman. Na
conversa com o editor de cultura da Época, Luís Antônio Giron,
Bauman, considerado um dos pensadores mais eminentes do declínio da
civilização, fala sobre como a vida, a política e os padrões culturais
mudaram nos últimos 20 anos.
As instituições políticas
perderam representatividade porque sofrem com um “déficit perpétuo de poder”.
Na cultura, a elite abandonou o projeto de incentivar e patrocinar a cultura e
as artes. Segundo ele, hoje é moda, entre os líderes e formadores de opinião,
aceitar todas as manifestações, mas não apoiar nenhuma. Leia a entrevista.
Entrevista Zygmunt Bauman: "Vivemos
o fim do futuro”
por Luís Antônio Giron para Época (19/02/2014)
por Luís Antônio Giron para Época (19/02/2014)
Época: De
acordo com sua análise, as pessoas vivem um senso de desorientação. Perdemos a
fé em nós mesmos?
Zygmunt Bauman: Ainda que a proclamação do “fim da história” de Francis Fukuyama não faça sentido (a história terminará com a espécie humana, e não num momento anterior), podemos falar legitimamente do “fim do futuro”. Vivemos o fim do futuro. Durante toda a era moderna, nossos ancestrais agiram e viveram voltados para a direção do futuro. Eles avaliaram a virtude de suas realizações pela crescente (genuína ou suposta) proximidade de uma linha final, o modelo da sociedade que queriam estabelecer. A visão do futuro guiava o presente. Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro. Fomos repelidos pelos atalhos do dia de hoje. Estamos mais descuidados, ignorantes e negligentes quanto ao que virá.
Época: Segundo o senhor, a decadência da política acontece desde o século passado. A situação piorou agora?
Zygmunt Bauman: A decadência da política é causada e reforçada pela crise da agenda política. As instituições amarram o poder de resolver os problemas à política. Ela seria capaz de decidir que coisas precisariam ser feitas. Nossos antepassados conceberam uma ordem que dependia dos serviços do Estado-nação. Mas essa ordem não é mais adequada aos desafios postulados pela contínua globalização de nossa interdependência. Com a separação do poder e da política, a gente se encontra na dupla situação de poderes livres do controle político e da política que sofre o déficit perpétuo do poder. Daí a crise de confiança nas instituições políticas, uma vez que a política investiu nos parlamentos e nos partidos para construir a democracia como atualmente a compreendemos. Mais e mais pessoas duvidam que os políticos sejam capazes de cumprir suas promessas. Assim, elas procuram desesperadamente veículos alternativos de decisão coletiva e ação, apesar de, até agora, isso não ter representado uma alteração efetiva.
Época: As
redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de
mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede?
Zygmunt Bauman: Redes, você sabe, são interligadas, mas também descosturadas e remendadas por meio de conexões e desconexões... As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que experimentamos quando estamos no mundo on-line da internet.
Época: Os jovens podem mudar e salvar o mundo? Ou nem os jovens podem fazer algo para alterar a história?
Zygmunt Bauman: Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em prática, dependerá da imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do planeta e seus habitantes. Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.
Época: Como o
senhor vê a nova onda de protestos na Europa, no Oriente Médio, nos Estados
Unidos e na América Latina, que aumentou nos últimos anos?
Zygmunt Bauman: Se Marx e Engels escrevessem o Manifesto Comunista hoje, teriam de substituir a célebre frase inicial – “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo” – pela seguinte: “Um espectro ronda o planeta – o espectro da indignação”. Esse novo espectro comprova a novidade de nossa situação em relação ao ano de 1848, quando Marx e Engels publicaram o Manifesto. Faltam-nos precedentes históricos para aprender com os protestos de massa e seguir adiante. Ainda estamos tateando no escuro.
Época: O senhor afirma que as elites adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude?
Zygmunt Bauman: Em relação ao domínio das escolhas culturais, a resposta é que não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites renunciaram às ambições passadas, de empreender uma missão iluminadora da cultura. A elite deixou de ser o mecenas da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar tudo.
Época: Essa diluição dos valores explica por que artistas como Damian Hirst e Jeff Koons buscam mais fama do que reconhecimento artístico?
Zygmunt Bauman: Prefiro não generalizar sobre esse tema. Os artistas, suas performances e produtos são hoje em dia muitos e diferentes, e os veredictos apressados são equivocados. Pessoalmente, detesto e me aborreço com os Damiens Hirsts, Jeff Koons e similares. (ler sobre a obra de Damiens Hirsts e Jeff Koons no final da postagem) Mas eles são ostensivamente sustentados pelas correntes e modas guiadas pelo mercado. Os mercados usurparam o mecenato das artes das igrejas e dos Estados. Por isso, o meio é realmente a mensagem da arte contemporânea.
Época: Como
diz o crítico George Steiner, os produtos culturais hoje visam ao máximo
impacto e à obsolescência instantânea. Há uma saída para salvar a arte como uma
experiência humana importante?
Zygmunt Bauman: Bem, esses produtos se comportam como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas de produtos na sociedade dos consumidores. Uma vez que a busca pelo lucro continua a ser o motor mais importante da economia, há pouca oportunidade para que os objetos de arte cessem de obedecer à sentença de Steiner...
Época: O senhor diz que a cultura se tornou dependente da moda. Por que isso ocorre?
Zygmunt Bauman: Modas vêm e vão e são tão velhas quanto a cultura, tão antigas quanto o homo sapiens... O que a fez tão espetacularmente presente em nossa vida diária é o impacto combinado da comunicação digital em tempo real e da produção em massa com a associação entre butiques de alta-costura e grandes redes de lojas. As manifestações culturais e artísticas são arrastadas pelo motor da moda.
Época: A moda
pode dar sentido à vida das pessoas?
Zygmunt Bauman: A moda tem seus usos e uma demanda enorme e crescente. Ela fornece um modelo para a constante troca de identidades de nosso mundo. Funciona também como antídoto contra o horror de falhar num mundo em alta velocidade e contra o resultante abandono e degradação social. Não há nada de inútil na moda. Pelo contrário, é uma necessidade num mundo de flutuação e desorientação.
Época: Seus livros parecem pessimistas, talvez porque abram demais os
olhos dos leitores. O senhor é pessimista? Ou busca a alegria de alguma forma,
apesar de todos os problemas?
Zygmunt Bauman: A meu ver, os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos... Mas acredito que essa classificação binária de atitudes não é exaustiva. Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria. De outra forma, não veria sentido em falar e escrever...
Damian Hirst
A morte é o tema central
da sua obra, que sempre esteve rodeada de grande polémica mais ou menos
premeditada e, por conseguinte de um grande seguimento mediático; por exemplo,
as autoridades de New York proibiram a exposição do seu "casal morto
fodendo duas vezes", dos cadáveres de um touro e uma vaca flutuando em formol. Esta última pertence à sua série de obras mais conhecida, Natural History na qual distintos animais mortos como
um tubarão, uma ovelha ou uma vaca são
conservados e por vezes cortados dentro de tanques de formaldeído. É ainda
conhecido por seus "spin paintings", realizados sobre una superfície
giratória, e pelos seus "spot paintings", círculos coloreados
aleatoriamente.
O seu trabalho mais icónico e polémico, The Physical Impossibility Of Death
In the Mind Of Someone Living (Impossibilidade
física da morte na mente de alguém vivo), um enorme tubarão tigre numa vitrina
cheia de formaldeído, foi vendido em 2004 como a segunda
obra mais cara de um artista em vida (depois de Jasper
Johns), rondando os dez milhões de dólares. Devido à decomposição do
tubarão-tigre, foi substituído com um novo espécime em 2006.
Em Agosto de 2007, este escultor vendeu por 100 000 000 USD
(cem milhões de dólares), a obra 'Pelo amor de Deus', que consiste num crânio
com mais de oito mil diamantes incrustados. O montante desta transação é o mais
alto pago até à data por uma obra de um artista vivo.
(Texto Wikipédia)
Jeff Koons
O artista conceitual
Jeff Koons usou de várias ideias e materiais para construir suas obras. Nessa
diversidade estão:
·
PUPPY - um cachorro formado por flores, medindo 16
metros de altura, construído num jardim de um palácio. Esse trabalho, ele fez
em protesto por não ter participado da Documenta de Kassel, em 1992, na
Alemanha. Ele comparou a cidade alemã à Disneylândia. Atualmente a
"escultura"está no Museu Guggenheim de Bilbao.
·
BRANCUSI - um coelho feito de plástico espelhado,
imitando aço inoxidável policio. Nessa obra, o significado não está
reconhecido, está aberto; ele reflete a personalidade do observador; ele se
adequa ao ambiente como um camaleão.
·
SÉRIE DE OBJETOS DE PORCELANA- o artista fazia
encomendas, a artesões, de pequenos objetos populares: estátuas religiosas
(anjinhos), animais caricaturados (cachorrinhos, ursinhos) e até de alguns
ícones populares (Michael Jackson, pantera cor-de-rosa), arranjo de flores-objetos
presentes no cotidiano. Assim, ele se apropria de elementos estéticos da
cultura de massa (que já possuem uma função), descontextualizando-as.
·
SÉRIE ‘MADE IN HEAVEN’ - o artista apresentava uma
série de fotos gigantescas onde apresentava atos sexuais explícitos, assim como
fotos dele mantendo relações sexuais com a atriz-pornô Cicciolina (a
ícone do gênero). O tema de Koons nesse trabalho seria a validade da
pornografia como arte. Segundo Koons, as imagens não possuem o objetivo de
produzir atração sexual nos observadores, elas apenas mostram a intimidade de
um casal - quebrando um padrão de moral, o que diferencia é a intenção. Essa
afirmação é bastante discutível, mas a discussão levantada pelo artista tem
sido considerada com frequência por artistas contemporâneos.
·
ICON GOOGLE - a 30 de Abril de 2008, o logotipo
apresentado na página do Google é criação de Kooks. .
·
Colaborações com Lady Gaga - a capa do 3ª álbum de
estúdio de Lady Gaga, ARTPOP foi criada pelo artista e divulgada na Times
Square a 07/10/2013. C (ver capa) Criou também
esculturas para um evento da cantora, a ArtRave, suas obras foram expostas no
dia 11/11/2013. Tem seu nome citado na música Applause.
As relações que seus
trabalhos possuem com o conceito de kitsch é que ele transforma o que é kitsch
em obra de arte. Por exemplo: na obra PUPPY ele usa um jardim, que já possui
uma função estética de pura decoração, em uma ironia dentro de um contexto
específico; o coelho BRANCUSI ele juntou a vontade de emitir do emissor com a
vontade de receber do receptor, para transformar o kitsch objeto em arte; as
porcelanas põem em questão: obra de arte ou objeto de cultura de massa?.
(Texto Wikipédia)
Chico Expedito – fev/2014
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