sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Se Deus tivesse falado

Baruch Espinosa




"Para de ficar rezando e batendo o peito!
O que eu quero que faças é que saias
pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e que acredita ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais dizer a mim como fazer meu
trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão, não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de
incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por ser como tu és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são
artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja tua guia.
Amado meu, esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no
caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único
que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre, não há prêmios nem castigos, não há pecados nem virtudes, ninguém leva um placar, ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para criar na tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única
oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás
aproveitado da oportunidade que te dei.
E se há, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar, Você gostou?... Divertiu-se? O que foi o que você mais gostou? O que você aprendeu?
Para de crer em mim, crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você
acredite em mim, quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Para de louvar-me, Que tipo de Deus ególatra você acredita que Eu sou?
Me aborrece que me louvem, me cansa que me agradeçam. Você se sente
grato? Demonstrá-lo cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me
louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram
sobre mim. A única certeza é que você está aqui, estás vivo, e este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procures fora, não me acharás.
Procura-me dentro... aí estou, batendo em ti."


Bento de Espinosa (também Benedito de Espinosa - Baruch Espinosa), 24 de novembro de 1632, Amsterdã - 21 de fevereiro de 1677, Haia. Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
A sua familia fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de grandes judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também Giordano Bruno. Ganhou fama pela suas posições de panteismo (Deus, natureza naturante) e monismo neutro, e ainda devido ao fato de sua ética ter sido escrita sob a forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.  (Fonte - Wikipédia)

Um comentário:

Ira Deorum Sallos disse...

Baruch Espinoza foi um gigante. Par e passo com os maiores. Era um dos mestres favoritos de Albert Einstein. Pagou caríssimo por visualizar muitos séculos à frente e por buscar dar ao Homem a plenitude.