No dia 29 de
outubro de 2011, no Teatro Garagem em Brasília, foi lançado o livro “A educação pela arte: o caso Garagem”, de Maria Duarte. Infelizmente, por
questões de trabalho não pude participar desse momento de encontro e de festa, nem
pude rever todas aquelas pessoas, tão importantes para mim e para minha
formação. Sinto saudade, até mesmo, dos “inimigos”... Na verdade “inimigos de ocasião”, naquela época, a gente brigava muito na
defesa das nossas idéias... “Fazia parte do Show”.
Na mesma noite, aconteceu também o lançamento de um documentário em
vídeo e de um catálogo fotográfico intitulado: Teatro Garagem: Celeiro Cultural de Brasília.
“O caso garagem” complementa outro livro da
autora, “A educação pela arte: o caso
Brasília”, publicado em 1983, agora também relançado.
Os Livros
Esse é o livro
sobre o Teatro Garagem. Brilhante e emocionante. Resgate
fundamental de um momento importante da cultura Brasiliense. (ver ”minha memória”
abaixo)
Esse Livro é oriundo da
dissertação de Mestrado em Educação de Maria Duarte. Foi lançado em 1983
e agora relançado, “... ele resgata projetos para áreas da educação e da
cultura elaborados, a partir de 1957, para futura Brasília e uma pesquisa histórica
sobre o que aconteceu (passados 25 anos), com esses projetos”.
É um livro de fôlego,
excepcional e necessário. Tem uma importância incalculável para o resgate do
processo educativo e cultural de Brasília. Contemplado com o Prêmio Brasília
25 Anos, foi considerado “obra pioneira e de cunho científico”, conforme
parecer da Comissão Julgadora. Tornou-se, leitura obrigatória e fonte de
informações para os estudos e pesquisas das futuras gerações de candangos.
A Autora
Foto: Andressa Anholete
Maria de Souza Duarte. Carioca, casada, três
filhos e quatro netos. Assistente social, mestre em Educação e pós-graduada em
Planejamento da Educação e Administração Cultural. Desde 1970, reside com sua
família em Brasília, onde sempre esteve envolvida com pessoas, grupos, instituições
e com o desenvolvimento cultural da capital brasileira. Coordenou todo o
processo de produção cultural da época em questão, do SESC 913 e Teatro
Garagem. E ainda é minha amiga.
Catálogo fotográfico, lançado em comemoração
aos 30 anos do Teatro Garagem.
Na ocasião, recolhi algumas manchetes e textos
publicados pela imprensa de Brasília.
Símbolo da arte e da resistência
Maria
Duarte lança livro sobre o Teatro SESC GARAGEM, que desde 1979 estimula a
produção cultural em Brasília.
...“O SESC Garagem nasceu da proposta
de integrar arte e educação como forma de estimular o questionamento social e
político. Maria Duarte lança a proposta para criação de uma casa que se
comprometesse com a sensibilização das pessoas. Para ela, a saída é unir arte e
educação: “Tenho como básico entender a cultura como tudo o que resulta do
pensar e do fazer do homem; a educação como o processo de transmissão da
cultura; e a arte como um recurso educacional”.
Assim, o tripé formação-produção-
difusão é o que sustenta a cultura. Segundo Maria Duarte, é preciso dar
condições para as pessoas produzirem seus próprios trabalhos. E, para isso, é
necessário também ter estrutura física para tanto.
Ela diz ainda que os palcos dos teatros
abrigaram, desde sua fundação, “a Brasília que pulsa”, que não se calava apesar
de submetida à ditadura militar. “O SESC Garagem foi o espaço de democratização
e de luta pelo fim de preconceitos”, relembra.
Maria de Souza Duarte lança livro sobre a experiência do Teatro Garagem
Maria de Souza Duarte lança livro sobre a experiência do Teatro Garagem
(Trecho de matéria publicada no
Correio Braziliense em 27/10/2011)
Severino Francisco
De meados da década de 1970 até o início da década de 1980, o SESC da 913 Sul foi o endereço mais quente da cultura em Brasília. Era lá que se armava uma resistência, a um só tempo, organizada, festiva, anárquica, experimental, polêmica, educativa e reflexiva ao sufoco do regime militar. Por lá, nasceram, cresceram ou passaram Os Melhores do Mundo, Vidas Erradas, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Chico Expedito, Chacal, Nicolas Behr, o Teatro Oficina (de Zé Celso Martinez Corrêa), Hugo Rodas, Humberto Pedrancini, Jorge Mautner, Jards Macalé, Alceu Valença, o projeto Cabeças, o movimento de cineclubes e TT Catalão. Se a resistência política era alegre, as festas também se tornavam acontecimentos políticos. É essa história que a pesquisadora Maria de Souza Duarte reconstitui no livro duplo Arte educação: o caso Brasília e Arte educação: o caso Garagem (Ed. UnB), a ser lançado no sábado, às 20h, durante a entrega do Prêmio SESC de Teatro.
O caso Brasília é uma reedição do livro escrito a partir de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília. Durante o lançamento, será exibido um documentário sobre o Teatro Garagem, com depoimentos de 77 pessoas que participaram da experiência, e apresentado um catálogo de fotos produzido pelo designer Hugo Rocha. Maria Duarte dirigiu o SESC da 913 Sul de 1970 a 1982 e, ao ser homenageada em 2009, recebeu o convite para escrever a história do reduto da cultura brasiliense daquele período. “Resolvi acoplar os dois livros porque a experiência do Teatro Garagem foi de educação pela arte, inspirada pelos mesmos princípios de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que nortearam o sistema de ensino nos tempos pioneiros de Brasília”, justifica. A história de O caso Brasília cobre o período de 1957 a 1982, e a de O caso Garagem avança de 1970 até 2000.
O caso Brasília é uma reedição do livro escrito a partir de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília. Durante o lançamento, será exibido um documentário sobre o Teatro Garagem, com depoimentos de 77 pessoas que participaram da experiência, e apresentado um catálogo de fotos produzido pelo designer Hugo Rocha. Maria Duarte dirigiu o SESC da 913 Sul de 1970 a 1982 e, ao ser homenageada em 2009, recebeu o convite para escrever a história do reduto da cultura brasiliense daquele período. “Resolvi acoplar os dois livros porque a experiência do Teatro Garagem foi de educação pela arte, inspirada pelos mesmos princípios de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que nortearam o sistema de ensino nos tempos pioneiros de Brasília”, justifica. A história de O caso Brasília cobre o período de 1957 a 1982, e a de O caso Garagem avança de 1970 até 2000.
O SESC da 913 Sul foi um espaço importante pela capacidade de articulação, ousadia e compromisso com a questão cultural de Brasília.
MINHA MEMÓRIA
Como disse
a Zezé Cunha, em algum momento do
seu depoimento... “A gente era feliz e sabia”. Belo e rico momento das nossas
vidas, a experiência do Garagem e do
SESC 913. Aquela equipe tomou para si a
responsabilidade de encabeçar e encaminhar o processo cultural de toda uma
cidade, isso nos anos ainda difíceis, no final da década de 70 e começo da de
80. E não era uma cidade qualquer... Era a Capital da República.
É preciso que
se diga que aquela equipe, teve o privilégio de trabalhar e conviver com uma
cabeça iluminada e abençoada... Maria
Duarte estava lá, para coordenar e colocar alguma ordem no caos, para
objetivar e dar sentido a toda aquela loucura, a toda aquela energia e emoções
de bichos soltos.
Humberto Pedrancini definiu bem àquele momento... “A
gente estava somente ocupando os espaços...” De fato, a gente ia fazendo e
ocupando os espaços que víamos como possíveis, respondendo quase sempre a uma
provocação da Maria, ou alguma
provocação externa que nos incomodava... Da minha parte, os objetivos eram
imediatos, não pensava em nada como um processo, não tinha nenhum fim
especifico, ou objetivo em longo prazo muito claro na cabeça, simplesmente ia
fazendo... Mas sempre, com a certeza absoluta de que aquilo era necessário,
acertando e errando, mas principalmente aprendendo muito.
Artes
Plásticas, Musica, Artes Cênicas, Laser, Educação Física, Gastronomia, Cenotecnica,
Artes Marciais, Cinema... “Tudo junto e
misturado”, como alguém falou. Fomos pioneiros em Brasília, assistindo,
dando guarita e dando o devido valor às demandas da sociedade, como o movimento
negro, a causa feminina, o movimento Gay, a terceira idade... E acabamos por
construir um ícone da cidade, o Teatro
Garagem, que já fez 32 anos em uma cidade de 50... É pura história e está
lá para nos lembrar que as mudanças são possíveis. Isso tudo, em uma
Instituição, na época, considerada “careta”,
o que era fato. Mas aí entrava, de novo, o talento da Maria Duarte, capaz de nos representar, defender, justificar e
aparar todas as arestas provocadas pelas nossas ações junto à “Instituição SESC”.
Tudo isso,
toda essa historia está brilhantemente contada no livro, “A educação pela arte - o Caso Garagem”. Agora com a devida distancia,
a autora coloca para nós, que estávamos lá e para o público em geral com
clareza e simplicidade impressionantes, a importância daquela época e daquele
trabalho para a nossa formação e para o processo cultural da cidade, que seguiu
influenciada pelas nossas ações. Não sei se hoje, as novas gerações, tem uma idéia
clara dessas boas influências que tiveram do passado... As coisas mudaram, a época é outra,
tudo é mais burocrático, compartimentalizado, desfragmentado, personalizado,
descaracterizado, pasteurizado, etc. Nós artistas, não somos independentes
(talvez nunca tenhamos sido, todas as vezes que tentamos, fomos isolados). Os
projetos obedecem a regras muito rígidas e nós nos submetemos a elas, a cultura
já nasce engessada desde os editais de financiamento, e continuamos a depender
deles... Temos que continuar o trabalho, é a nossa profissão e nossa sina. Hoje,
para piorar tudo, vivemos a “cultura das celebridades”, que emburrece e nivela
tudo por baixo. Só os escolhidos da mídia, tem algum valor de escambo. A arte,
parece, deixou de exercer a sua função principal, que é a do encontro, da
identificação entre os seres, da pesquisa, da descoberta, do coletivo, de
quando o processo às vezes, era mais importante que o resultado, agora tudo é
muito personalista... Trocou-se o debate com os artistas, pelo “culto” aos
artistas, é estranho. “Não sei... Só sei
que é assim”... Aquela época foi determinante para minha geração, para o meu Grupo Katharsis, para meus companheiros
de sempre, Marisa Castro, Graça Veloso,
Sergio Vianna e outros... Tenho a
convicção de que fizemos a nossa parte (não só os citados, mas todos os
envolvidos) e na hora em que precisava ser feita. Para mim, aquele momento deu
sentido, objetivou e reafirmou minhas convicções para o trabalho de toda vida, eu
continuo brigando e muitas vezes, ainda pelas mesmas coisas (daí minha opção de
fazer teatro longe dos grandes centros). Valeu à pena ter vivido Brasília
naquela época.
Para fechar
com brilhantismo o evento do dia 29, e para lembrarmos todas as caras e todas
as emoções, o SESC aproveita e lança um belo catálogo fotográfico em
comemoração aos 30 anos do Garagem, o
catalogo consegue ilustrar bem aquele momento.
Acho da
maior importância o resgate proporcionado por esse trabalho, como o é também o de
outras obras já publicadas em Brasília, focando outros momentos e outras
experiências daquela época. De minha parte, tenho o maior orgulho de ter
participado daquilo tudo.
Chico
Expedito – Rio/novembro/2011
Fotos
Quando
ainda era uma garagem vazia
Inauguração
– Humberto Pedrancini, Chico Expedito, Maria Duarte, Bené Setenta, Xavier e
Nivaldo Ramos
Inauguração
O
Teatro Garagem hoje