terça-feira, 22 de novembro de 2011

Teatro Garagem




No dia 29 de outubro de 2011, no Teatro Garagem em Brasília, foi lançado o livro “A educação pela arte: o caso Garagem”, de Maria Duarte. Infelizmente, por questões de trabalho não pude participar desse momento de encontro e de festa, nem pude rever todas aquelas pessoas, tão importantes para mim e para minha formação. Sinto saudade, até mesmo, dos “inimigos”... Na verdade “inimigos de ocasião”, naquela época, a gente brigava muito na defesa das nossas idéias... “Fazia parte do Show”.
Na mesma noite, aconteceu também o lançamento de um documentário em vídeo e de um catálogo fotográfico intitulado: Teatro Garagem: Celeiro Cultural de Brasília.
“O caso garagem” complementa outro livro da autora, “A educação pela arte: o caso Brasília”, publicado em 1983, agora também relançado.
Os Livros


Esse é o livro sobre o Teatro Garagem.  Brilhante e emocionanteResgate fundamental de um momento importante da cultura Brasiliense. (ver ”minha memória” abaixo)




Esse Livro é oriundo da dissertação de Mestrado em Educação de Maria Duarte. Foi lançado em 1983 e agora relançado, “... ele resgata projetos para áreas da educação e da cultura elaborados, a partir de 1957, para futura Brasília e uma pesquisa histórica sobre o que aconteceu (passados 25 anos), com esses projetos”.
É um livro de fôlego, excepcional e necessário. Tem uma importância incalculável para o resgate do processo educativo e cultural de Brasília. Contemplado com o Prêmio Brasília 25 Anos, foi considerado “obra pioneira e de cunho científico”, conforme parecer da Comissão Julgadora. Tornou-se, leitura obrigatória e fonte de informações para os estudos e pesquisas das futuras gerações de candangos.

A Autora

Foto: Andressa Anholete

Maria de Souza Duarte. Carioca, casada, três filhos e quatro netos. Assistente social, mestre em Educação e pós-graduada em Planejamento da Educação e Administração Cultural. Desde 1970, reside com sua família em Brasília, onde sempre esteve envolvida com pessoas, grupos, instituições e com o desenvolvimento cultural da capital brasileira. Coordenou todo o processo de produção cultural da época em questão, do SESC 913 e Teatro Garagem. E ainda é minha amiga.




Catálogo fotográfico, lançado em comemoração aos 30 anos do Teatro Garagem.
Na ocasião, recolhi algumas manchetes e textos publicados pela imprensa de Brasília.


Símbolo da arte e da resistência

Maria Duarte lança livro sobre o Teatro SESC GARAGEM, que desde 1979 estimula a produção cultural em Brasília.

...“O SESC Garagem nasceu da proposta de integrar arte e educação como forma de estimular o questionamento social e político. Maria Duarte lança a proposta para criação de uma casa que se comprometesse com a sensibilização das pessoas. Para ela, a saída é unir arte e educação: “Tenho como básico entender a cultura como tudo o que resulta do pensar e do fazer do homem; a educação como o processo de transmissão da cultura; e a arte como um recurso educacional”.
Assim, o tripé formação-produção- difusão é o que sustenta a cultura. Segundo Maria Duarte, é preciso dar condições para as pessoas produzirem seus próprios trabalhos. E, para isso, é necessário também ter estrutura física para tanto.
Ela diz ainda que os palcos dos teatros abrigaram, desde sua fundação, “a Brasília que pulsa”, que não se calava apesar de submetida à ditadura militar. “O SESC Garagem foi o espaço de democratização e de luta pelo fim de preconceitos”, relembra.

Maria de Souza Duarte lança livro sobre a experiência do Teatro Garagem
(Trecho de matéria publicada no Correio Braziliense em 27/10/2011) 

Severino Francisco

De meados da década de 1970 até o início da década de 1980, o SESC da 913 Sul foi o endereço mais quente da cultura em Brasília. Era lá que se armava uma resistência, a um só tempo, organizada, festiva, anárquica, experimental, polêmica, educativa e reflexiva ao sufoco do regime militar. Por lá, nasceram, cresceram ou passaram Os Melhores do Mundo, Vidas Erradas, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Chico Expedito, Chacal, Nicolas Behr, o Teatro Oficina (de Zé Celso Martinez Corrêa), Hugo Rodas, Humberto Pedrancini, Jorge Mautner, Jards Macalé, Alceu Valença, o projeto Cabeças, o movimento de cineclubes e TT Catalão. Se a resistência política era alegre, as festas também se tornavam acontecimentos políticos. É essa história que a pesquisadora Maria de Souza Duarte reconstitui no livro duplo Arte educação: o caso Brasília e Arte educação: o caso Garagem (Ed. UnB), a ser lançado no sábado, às 20h, durante a entrega do Prêmio SESC de Teatro.


O caso Brasília é uma reedição do livro escrito a partir de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília. Durante o lançamento, será exibido um documentário sobre o Teatro Garagem, com depoimentos de 77 pessoas que participaram da experiência, e apresentado um catálogo de fotos produzido pelo designer Hugo Rocha. Maria Duarte dirigiu o SESC da 913 Sul de 1970 a 1982 e, ao ser homenageada em 2009, recebeu o convite para escrever a história do reduto da cultura brasiliense daquele período. “Resolvi acoplar os dois livros porque a experiência do Teatro Garagem foi de educação pela arte, inspirada pelos mesmos princípios de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que nortearam o sistema de ensino nos tempos pioneiros de Brasília”, justifica. A história de O caso Brasília cobre o período de 1957 a 1982, e a de O caso Garagem avança de 1970 até 2000.

O SESC da 913 Sul foi um espaço importante pela capacidade de articulação, ousadia e compromisso com a questão cultural de Brasília. 


MINHA MEMÓRIA


Como disse a Zezé Cunha, em algum momento do seu depoimento... “A gente era feliz e sabia”. Belo e rico momento das nossas vidas, a experiência do Garagem e do SESC 913.  Aquela equipe tomou para si a responsabilidade de encabeçar e encaminhar o processo cultural de toda uma cidade, isso nos anos ainda difíceis, no final da década de 70 e começo da de 80. E não era uma cidade qualquer... Era a Capital da República.
É preciso que se diga que aquela equipe, teve o privilégio de trabalhar e conviver com uma cabeça iluminada e abençoada... Maria Duarte estava lá, para coordenar e colocar alguma ordem no caos, para objetivar e dar sentido a toda aquela loucura, a toda aquela energia e emoções de bichos soltos.
Humberto Pedrancini definiu bem àquele momento... “A gente estava somente ocupando os espaços...” De fato, a gente ia fazendo e ocupando os espaços que víamos como possíveis, respondendo quase sempre a uma provocação da Maria, ou alguma provocação externa que nos incomodava... Da minha parte, os objetivos eram imediatos, não pensava em nada como um processo, não tinha nenhum fim especifico, ou objetivo em longo prazo muito claro na cabeça, simplesmente ia fazendo... Mas sempre, com a certeza absoluta de que aquilo era necessário, acertando e errando, mas principalmente aprendendo muito.
Artes Plásticas, Musica, Artes Cênicas, Laser, Educação Física, Gastronomia, Cenotecnica, Artes Marciais, Cinema... “Tudo junto e misturado”, como alguém falou. Fomos pioneiros em Brasília, assistindo, dando guarita e dando o devido valor às demandas da sociedade, como o movimento negro, a causa feminina, o movimento Gay, a terceira idade... E acabamos por construir um ícone da cidade, o Teatro Garagem, que já fez 32 anos em uma cidade de 50... É pura história e está lá para nos lembrar que as mudanças são possíveis. Isso tudo, em uma Instituição, na época, considerada “careta”, o que era fato. Mas aí entrava, de novo, o talento da Maria Duarte, capaz de nos representar, defender, justificar e aparar todas as arestas provocadas pelas nossas ações junto à “Instituição SESC”.
Tudo isso, toda essa historia está brilhantemente contada no livro, “A educação pela arte - o Caso Garagem”. Agora com a devida distancia, a autora coloca para nós, que estávamos lá e para o público em geral com clareza e simplicidade impressionantes, a importância daquela época e daquele trabalho para a nossa formação e para o processo cultural da cidade, que seguiu influenciada pelas nossas ações. Não sei se hoje, as novas gerações, tem uma idéia clara dessas boas influências que tiveram do  passado... As coisas mudaram, a época é outra, tudo é mais burocrático, compartimentalizado, desfragmentado, personalizado, descaracterizado, pasteurizado, etc. Nós artistas, não somos independentes (talvez nunca tenhamos sido, todas as vezes que tentamos, fomos isolados). Os projetos obedecem a regras muito rígidas e nós nos submetemos a elas, a cultura já nasce engessada desde os editais de financiamento, e continuamos a depender deles... Temos que continuar o trabalho, é a nossa profissão e nossa sina. Hoje, para piorar tudo, vivemos a “cultura das celebridades”, que emburrece e nivela tudo por baixo. Só os escolhidos da mídia, tem algum valor de escambo. A arte, parece, deixou de exercer a sua função principal, que é a do encontro, da identificação entre os seres, da pesquisa, da descoberta, do coletivo, de quando o processo às vezes, era mais importante que o resultado, agora tudo é muito personalista... Trocou-se o debate com os artistas, pelo “culto” aos artistas, é estranho.  “Não sei... Só sei que é assim”... Aquela época foi determinante para minha geração, para o meu Grupo Katharsis, para meus companheiros de sempre, Marisa Castro, Graça Veloso, Sergio Vianna e outros...  Tenho a convicção de que fizemos a nossa parte (não só os citados, mas todos os envolvidos) e na hora em que precisava ser feita. Para mim, aquele momento deu sentido, objetivou e reafirmou minhas convicções para o trabalho de toda vida, eu continuo brigando e muitas vezes, ainda pelas mesmas coisas (daí minha opção de fazer teatro longe dos grandes centros). Valeu à pena ter vivido Brasília naquela época.
Para fechar com brilhantismo o evento do dia 29, e para lembrarmos todas as caras e todas as emoções, o SESC aproveita e lança um belo catálogo fotográfico em comemoração aos 30 anos do Garagem, o catalogo consegue ilustrar bem aquele  momento.
Acho da maior importância o resgate proporcionado por esse trabalho, como o é também o de outras obras já publicadas em Brasília, focando outros momentos e outras experiências daquela época. De minha parte, tenho o maior orgulho de ter participado daquilo tudo.

Chico Expedito – Rio/novembro/2011

Fotos



Quando ainda era uma garagem vazia


Inauguração – Humberto Pedrancini, Chico Expedito, Maria Duarte, Bené Setenta, Xavier e Nivaldo Ramos


Inauguração 




                  

    O Teatro Garagem hoje





sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Se Deus tivesse falado

Baruch Espinosa




"Para de ficar rezando e batendo o peito!
O que eu quero que faças é que saias
pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e que acredita ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais dizer a mim como fazer meu
trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão, não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de
incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por ser como tu és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são
artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja tua guia.
Amado meu, esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no
caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único
que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre, não há prêmios nem castigos, não há pecados nem virtudes, ninguém leva um placar, ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para criar na tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única
oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás
aproveitado da oportunidade que te dei.
E se há, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar, Você gostou?... Divertiu-se? O que foi o que você mais gostou? O que você aprendeu?
Para de crer em mim, crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você
acredite em mim, quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Para de louvar-me, Que tipo de Deus ególatra você acredita que Eu sou?
Me aborrece que me louvem, me cansa que me agradeçam. Você se sente
grato? Demonstrá-lo cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me
louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram
sobre mim. A única certeza é que você está aqui, estás vivo, e este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procures fora, não me acharás.
Procura-me dentro... aí estou, batendo em ti."


Bento de Espinosa (também Benedito de Espinosa - Baruch Espinosa), 24 de novembro de 1632, Amsterdã - 21 de fevereiro de 1677, Haia. Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
A sua familia fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de grandes judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também Giordano Bruno. Ganhou fama pela suas posições de panteismo (Deus, natureza naturante) e monismo neutro, e ainda devido ao fato de sua ética ter sido escrita sob a forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.  (Fonte - Wikipédia)